“(...) Creio que a utopia agora derrotada/ é mais forte que a mentira imposta oficialmente/ Voltará o tempo do canto e da alegria!/ Ainda não foi dada a última palavra!”
Com esse trecho do poema “7 de Abril de 2018”, do provincial agostiniano Paulo Gabriel, inicio a reflexão de hoje, que, é claro, trata da prisão do ex-presidente Lula. Mas não pretendo aqui lamentar e denunciar o golpe, que chega agora a seu ápice. Isso muitos já fizeram, e com propriedade. Quero dizer do novo tempo que se inicia e dos frutos que vemos brotar nessa seara trágica semeada por uma frente fascista que tomou as rédeas de nosso país.
Para início de conversa, se o script do golpe revelado por Jucá foi cumprido à risca, “com o Supremo com tudo”, o desfecho do filme fugiu totalmente do enredo. Não houve algemas nem humilhação pública. Lula tomou seu destino nas mãos. Fez do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, uma “embaixada dos trabalhadores”, em torno da qual se formou a maior trincheira de resistência que já vimos no Brasil. Expôs, assim, para o mundo a verdadeira face do golpe, e em seu curto “asilo político” mobilizou e organizou a reação. Decidiu quando se entregar e de lá saiu para entrar para a história, como símbolo da luta das classes populares.
Como disse o poeta, a última palavra não foi proferida. Em todos os rincões desta nação, surgem núcleos de resistência, e pela primeira vez a esquerda brasileira se unifica. Por essa eles não esperavam! Não mais interessa se é marxista, trotskista, leninista, anarquista. Há uma causa comum: defender a democracia, a liberdade e a soberania nacional.
Preso ou livre, Lula agora é maior do que ele mesmo. É uma ideia, uma bandeira da luta do povo oprimido pelas elites. Em contrapartida, sua prisão ilegal coloca um ponto final à farsa jurídica montada pela direita. Esta, agora sem uma causa que a aglutine, tende a guerrear internamente e a se esfacelar, em um processo de autofagia. Para não se desmoralizar ainda mais, o “grande” Supremo se verá obrigado a enviar alguns ao sacrifício, instalando-se entre o grupo que representa “um deus nos acuda”. Pode esperar.
Enquanto isso, na ordem do dia, não mais a prisão de Lula, mas sua liberdade. Esgotada a pauta única da Globo, a narrativa agora é das esquerdas, que têm nas mãos a tarefa de colocá-la nas agendas nacional e internacional. O momento não é só de tristeza, mas é também de lucidez e determinação. A candidatura de Lula firma-se hoje, mais do que nunca, como a única alternativa para a retomada do projeto de uma nação livre, soberana e de justiça social. Tomemos as ruas em sua defesa. Lula livre! Povo sem medo!
Por fim, informo que devido ao processo eleitoral que se aproxima, como detentor de mandato eletivo, suspenderei esta coluna, por uma questão de princípios. Agradeço ao jornal O TEMPO pela oportunidade e a todos os leitores e leitoras que acompanharam nossas reflexões.
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