A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi machista ao destacar a aparência estética de Gleisi Hoffmann em detrimento das competências profissionais exigidas para o cargo de ministra das Relações Institucionais. O discurso do ocupante do maior cargo do poder Executivo indica que estamos distantes da efetiva igualdade de gênero.

Usar a fala do presidente apenas como brecha para ataque político, sem refletir sobre o caráter misógino do discurso, é um erro. A polêmica que se criou ao redor do fato está contaminada pela polarização político-partidária. Enquanto aliados relevam o discurso, opositores usam insinuações machistas em seus ataques.

O que deve ser debatido, a começar pela classe política, é a baixa representatividade feminina em cargos de chefia, o que consiste em um desafio para a plena democracia nacional. Apesar de serem mais da metade da população e, em média, possuírem maior grau de instrução (IBGE), as mulheres ocupam apenas 42% dos cargos de chefia no setor público, de acordo com o movimento Pessoas à Frente.

A presença substancial de mulheres em cargos de alto escalão na administração pública possibilita uma distribuição de recursos e um processo decisório que refletem de forma autêntica as demandas da sociedade como um todo, promovendo a equidade. Esse reconhecimento e engajamento reforçam os princípios democráticos e estimulam ações justas que vão além do âmbito governamental.

A estrutura que exclui a mulher dos altos escalões público e privado, no fundo, contribui para a perpetuação dos diversos tipos de violência sofridos por elas diariamente.

As análises sobre Gleisi Hoffmann deveriam se ater à sua capacidade ou não de gestão e articulação política, ao apoio ou críticas ao seu posicionamento ideológico.

A naturalidade com que o presidente da República fugiu desse decoro esperado é um triste sinal de como o machismo está enraizado no cotidiano da sociedade e na estrutura institucional do poder.