Havia quase 20 anos que não se via uma taxa básica de juros tão alta quanto a definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na reunião de quarta-feira (18). A Selic de 15%, segundo os economistas do BC, deve ser o ponto culminante de uma escalada iniciada em junho de 2021, quando o patamar era de apenas 2%.
Mas a indicação dos diretores do banco durante o anúncio está longe de ser um alívio. A interpretação dos economistas do sistema financeiro é que o chamado “fim do ciclo de alta” não se tornará uma queda dos juros antes de 2026. Em parte, porque a inflação de 5,32% em maio ainda está bem acima do teto da meta, que é de 4,5%. Mas, principalmente, por causa do descontrole fiscal do governo federal, que aponta um rombo nas contas públicas de US$ 97 bilhões ao fim deste ano.
Do ponto de vista do setor produtivo, juros básicos tão elevados são um ácido a corroer os investimentos produtivos e os esforços para redução de custos finais. Traduzindo do economês para a linguagem do dia a dia: menos empregos, e preços cada vez mais altos.
Endividamento e empréstimo
E este não é o único impacto da decisão do Copom sobre as pessoas comuns. Com 77 milhões de endividados até maio deste ano, segundo levantamento do Serasa, Selic alta significa mais dificuldade em obter dinheiro para sair do vermelho.
Em agosto de 2020, quando a Selic era 2%, os empréstimos consignados em um banco privado eram corrigidos a juros de 2,863%. Agora, chegam a 46,89%. No caso dos empréstimos pessoais, a taxa simplesmente dobrou (passando de 72,73% para 154,32%). Agora, quem precisou parcelar a fatura do cartão de crédito – o que já não era barato em 2020 (124,71%) – viu sua dívida quase triplicar (185,06%).
Enquanto o governo federal não atacar as origens do problema, equilibrando despesas e receita e criando um ambiente propício para a produção, inflação e juros continuarão longe do controle e, pior, punindo de forma mais severa e cruel aquele que menos consegue se proteger: o cidadão comum.