A identificação dos supostos mandantes da morte de Marielle Franco encerra um dos capítulos mais tristes da política brasileira, mas traz revelações sobre a teia criminosa que se espalha nas instituições do país.
Ainda que não seja uma grande novidade o avanço do crime organizado nas estruturas mais importantes do Estado, o caso Marielle expõe, com clareza, como esse fenômeno pode ser nocivo para a sociedade.
Causa espanto saber, por exemplo, que o primeiro delegado a investigar o a morte da parlamentar, Rivaldo Barbosa, não só teria agido contra a elucidação do caso, mas também teria participado do planejamento do crime.
Além da morte de Marielle, diversos outros homicídios tiveram a investigação sabotada por agentes públicos, segundo relatório da Polícia Federal (PF). A trama incluía mesada de R$ 300 mil paga por criminosos a membros da Delegacia de Homicídios da Capital, indica a PF.
O envolvimento da política institucional no caso Marielle fica por conta dos irmãos Brazão, que têm reduto eleitoral em área dominada por milícia.
Nota-se no Rio de Janeiro e, em maior ou menor grau, em outros locais do país, a confluência da política institucional com o crime organizado na disputa por território. O surgimento e expansão de grupos paramilitares como as milícias resultam, entre outros fatores, da impunidade e da falha das autoridades do próprio Estado.
O combate à infiltração do crime nas instituições depende de medidas imediatas e estruturais. A corrupção não chegou ao atual estágio do dia para a noite e sua eliminação virá de um trabalho amplo.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes sugeriu ontem a refundação das polícias do Rio diante da gravidade dos fatos recentemente revelados. Medidas assim merecem discussão não só no Estado carioca, mas em todo o país.
Os exemplos graves de cooptação do Estado pelo crime são fartos, principalmente na América do Sul. é preciso agir enquanto ainda há tempo.