Ciência abalada

Em menos de um mês, tanto a porta de entrada para o ensino superior quanto a produção científica foram o retrato da má gestão na educação brasileira. Depois da turbulência que atingiu o Inep às vésperas do Enem, mais uma crise é exposta no Ministério da Educação. A debandada, ontem, foi na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes). Pelo menos 51 pesquisadores pediram demissão em conjunto. Nos dois casos de renúncia coletiva, os servidores reivindicam mais respaldo.

É legítima a preocupação dos pesquisadores com a suspensão, desde setembro, da avaliação quadrienal da pós-graduação. Os demissionários alegam que a entidade não tem se esforçado para que as avaliações voltem a acontecer.

A ação do Ministério Público Federal (MPF) que pediu a suspensão das avaliações cita que foram identificados ilícitos nos critérios adotados pela Capes no ranqueamento dos cursos e na concessão de bolsas. Esses indícios devem ser apurados, e os processos da agência, aperfeiçoados. Porém, a demora na decisão sobre o retorno das avaliações prejudica o andamento da pós-graduação no país.

A mensuração da qualidade dos cursos é essencial para elevar o nível da produção acadêmica no país. Além da formação teórica, a pós-graduação é responsável pela formação de mão de obra altamente qualificada para o mercado de trabalho. São profissionais que vão atuar na docência, nos setores público e privado. 

Cabe destacar que a debandada na Capes atinge uma área extremamente estratégica, a de Matemática, Probabilidade e Estatística (Mape). No momento em que a economia se baseia cada vez mais no conhecimento, negligenciar a produção científica é comprometer o desenvolvimento do país.