Defesa da democracia

O Brasil vive um momento perigoso de sua história. Junto às crises política e econômica, deflagradas no país em 2013, emergiu também um questionamento recorrente sobre a própria existência da democracia no Brasil. Num cenário de pouca legitimidade do poder público e com um horizonte embaçado, aventureiros e saudosistas de regimes ditatoriais ganham espaço ao defenderem soluções simplistas, baseadas na falta de diálogo e no uso da força para impor suas vontades.

As ameaças ao imperfeito sistema político brasileiro não são novidade. Desde o fim do governo militar, em 1985, há sempre uma voz disposta a pregar a dissolução do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, da maneira como funcionam hoje. O fato novo desse discurso é ele não partir mais apenas da caserna. Na segunda-feira, por exemplo, o confuso e influente vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, fez as vezes de arauto da antidemocracia. “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”, escreveu no Twitter.

Para a sorte do país, a frase do vereador causou indignação e foi, de pronto, rechaçada por figuras públicas, como os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Até o vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão, condenou a afirmação de Carlos Bolsonaro. O próprio vereador, acuado pela repercussão ruim do comentário, recuou. O desrespeito às regras do jogo se manifesta também nas tentativas recentes de censura. Na sexta-feira passada, a Prefeitura do Rio havia mandado fiscais à Bienal do Livro para recolher uma publicação.

O país precisa ficar alerta. É inegável a vontade de alguns de governar por leis próprias, desprezando os valores democráticos conquistados ainda de forma tímida no Brasil.