Recentemente, num mutirão de emprego, a maior empregadora privada do país ofereceu 1.200 vagas para os trabalhadores. Candidataram-se a essas vagas 600 pessoas, mas a empresa só conseguiu contratar sete delas.

Nos últimos dois anos, 60% das 11.800 vagas ofertadas em eventos que reuniram grandes empresas não foram preenchidas. As causas foram as deficiências do trabalhador, que tinha dificuldade de se expressar e de fazer contas.

A maioria dos empregos oferecidos é operador de caixa e de telemarketing. Esses são a porta de entrada dos jovens no mercado de trabalho. No entanto, com poucos anos de estudo, eles não atendem a maioria dos requisitos.

Os desempregados se defrontam com duas dificuldades: a estagnação da economia, que não oferece a quantidade de empregos necessária; e o avanço da tecnologia, que exige a rápida capacitação em novas habilidades.

Dos 13,5 milhões de desempregados existentes no primeiro trimestre deste ano, 635 mil são considerados de difícil colocação. O número é o dobro do registrado no mesmo período de 2014, quando a recessão não se declarara.

Mesmo que haja crescimento, o mercado não absorverá esse contingente. Prevê-se que dois em cada dez trabalhadores continuarão sem trabalho na próxima década, quando aqueles 635 mil poderão saltar para 1,4 milhão.

Para mudar esse quadro, é preciso investir em treinamento. O trabalhador não tem condições, já que está “correndo atrás do prejuízo”. Em crise financeira, o governo também não tem recursos. Resta a iniciativa privada.

Esta pode substituir o trabalhador por uma máquina, o que fez alguém afirmar que uma economia que gera 13 milhões de desempregados não resulta da competência empresarial, mas da falta de respeito pelo outro.

Está colocado um problema ético ao capitalismo, não só brasileiro, mas mundial. Sem essa preocupação com o outro, o sistema está conduzindo o mundo a uma divisão entre os que têm tudo e os que nada têm.