Mesmo com o crescimento do rendimento médio no Brasil, a desigualdade segue rígida no país. A Pnad Contínua divulgada ontem mostra a importância do emprego formal e dos programas sociais na redução dessa disparidade.
A renda média mensal dos brasileiros subiu 11,5% em 2023, passando de R$ 1.658 para R$ 1.848. Mas o grupo dos 1% mais ricos tem um rendimento médio mensal 39,2 vezes maior que os 40% com os menores rendimentos, de acordo com a pesquisa.
A leve melhora de renda dos 40% mais pobres é atribuída ao recebimento, pelas famílias de baixa renda, do Bolsa Família, além do aquecimento do mercado de trabalho e do aumento real do salário mínimo.
Os programas de transferência de renda, ainda que passíveis de críticas, vêm se mostrando valiosos no combate à pobreza, como ficou evidente na pandemia de Covid-19. Entretanto, ainda há um longo caminho até a estruturação das políticas assistenciais. A área de desenvolvimento social precisa ter um caráter contínuo dentro do Estado brasileiro, perpassando as mudanças de governo.
Ao lado das políticas sociais, o emprego formal é a saída sustentável da pobreza. No início dos anos 2000 a taxa de ocupação dos 10% mais vulneráveis era de 54%. O trabalho era marcado por condições precárias. O desafio do Estado, então, era elevar o salário mínimo, combater a informalidade e melhorar as condições de trabalho.
Atualmente, entre os 10% mais pobres, apenas 29% trabalham. Os demais buscam inserção no mercado, mas enfrentam dificuldades relacionadas à falta de qualificação e à própria oferta de vagas. O número de desempregados que procuram trabalho há dois anos ou mais caiu para 1,8 milhão, de acordo com levantamento da Pnad Contínua divulgado no ano passado.
A resistente desigualdade é uma herança que tem recortes raciais, regionais e de gênero. Todos esses aspectos devem ser levados em conta, e o combate à pobreza deve estar na ordem do dia de todos os governos.