O Brasil, que um dia já comemorou estar fora do Mapa da Fome mundial, hoje amarga uma realidade com 13 milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, ou seja, 6,5% da população nacional. Os dados relativos a 2019, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que esses números se mantêm estáveis há três anos e colocam o país em situação pior que a de nações com menos recursos, como Paraguai e Azerbaijão.
A miséria extrema tem um rosto, e, no Brasil, ele é predominantemente negro, com pouca instrução e feminino. Quatro em cada dez pessoas na miséria são mulheres pretas ou pardas que, em geral, chefiam sozinhas lares com filhos menores de 14 anos e menos de R$ 151 por mês – dinheiro suficiente para comprar pouco mais do que três pacotes de 5 kg de arroz.
Um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas neste ano, já em meio à pandemia, revelou um cenário melhor: 2,3% da população vivendo em extrema pobreza, o melhor índice em 40 anos. À época, os pesquisadores alertaram que o principal motivo dessa variação foi a concessão do auxílio emergencial para desempregados, informais e autônomos.
Agora, economistas e analistas se perguntam o que ocorrerá a partir de janeiro, quando o benefício temporário deixará de ser pago em um país no qual a geração de vagas de trabalho ainda engatinha e mais de 14 milhões de profissionais estão desempregados.
O momento é de impulsionar políticas de incentivo à produção e à geração de emprego em paralelo à reconstrução dos programas de amparo social – que se mostraram insuficientes logo no início da pandemia. Assim, o país poderá administrar prosperidade em vez de interminavelmente lutar contra a pobreza.