Multidão "invisível"

Imagine que você faça parte de um grupo que, apesar de equivaler a quase um quarto da população do país, seja praticamente invisível? Pois é assim que 45 milhões de brasileiros com deficiência são tratados cotidianamente devido à desinformação e ao preconceito. Mas, a cada quatro anos, uma janela se abre, na forma das Paralimpíadas, cuja abertura será nesta terça-feira.

Em Tóquio, o Brasil terá 260 atletas em cerca de 20 modalidades, e a delegação é a segunda maior dos jogos, atrás apenas dos donos da casa. Trata-se do resultado do esforço pessoal dos competidores, que superam obstáculos para treinar e competir em alto nível, e também do despertar de uma nova cultura entre as empresas investidoras, como, por exemplo, Braskem, Toyota, Caixa, Alpargatas, Estácio e Ajinomoto, que associaram suas marcas a atletas e ao Comitê Paralímpico Brasileiro.

São iniciativas que vão contra uma corrente poderosa. A pesquisa Todx aponta que somente 0,8% dos comerciais de TV mostram pessoas com deficiência. No ambiente digital não é muito diferente. Outro levantamento, de imagens e vídeos em Instagram e Facebook dos 20 maiores anunciantes do país, constatou que menos de 1% deles mostravam pessoas com deficiência.

Durante anos, argumentos questionáveis, como “não é bonito” ou “dá aflição nas pessoas”, distorceram a lógica publicitária com relação às pessoas com deficiência e a um potencial de consumo estimado em US$ 5,3 bilhões, segundo dados da Sondery Creative Acessibility.

Mas é preciso que a janela das Paralimpíadas permaneça aberta todos os dias, mostrando que a inclusão é não só necessária, quanto natural. Isso será possível quando todos prestarem menos atenção no “com deficiência” e mais no que é essencial: que somos igualmente pessoas.