Não é à toa que são chamados de “linhas de frente” os serviços de saúde na pandemia do coronavírus, pois, como em um campo de batalha, o risco é o mais alto e, às vezes, não se sobrevive à luta. No caso dos enfermeiros, pelo menos 98 já teriam morrido por causa da Covid-19 e outros 11 mil estariam contaminados, segundo levantamento realizado pelo Conselho Federal de Enfermagem. E ainda há médicos, auxiliares, laboratoristas e um sem-número de profissionais essenciais para fazer funcionar o sistema de saúde brasileiro em seu mais crucial teste.
Os números tão altos de contaminação não são gratuitos. De acordo com a Associação Médica Brasileira (AMB), faltam Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) em hospitais por todo o país. Em 705 municípios pesquisados até o último dia 8 de maio, havia quase 3.500 denúncias de ausência desse recurso indispensável. Oito em cada dez não possuíam máscaras do tipo N95, sete em cada dez não contavam com óculos de proteção, e um quarto deles não tinha sequer luvas para atuar.
Sem os EPIs, o perigo da contaminação é uma realidade efetiva para esses profissionais, que cumprem jornadas de 12 horas a 24 horas – às vezes mais – em contato permanente com os pacientes. Um temor que agrava o estresse de tratar uma doença da qual pouco se sabe, enfrentando o número crescente de mortes diárias, a escassez de leitos de UTI e de respiradores e a responsabilidade de amparar e consolar doentes e suas famílias. Pelo risco do contágio, muitos desses profissionais se isolam até dos pais, dos cônjuges e dos filhos.
Sem a tão necessária segurança, não há como esses profissionais vencerem a luta contra o coronavírus. É preciso que EPIs, recursos e apoio psicológico cheguem até eles, senão, em pouco tempo, em vez de linha de frente, teremos no sistema de saúde uma imensa “terra de ninguém”.