Tiro pela culatra

O país está alarmado com o resultado dos trabalhos legislativos dos últimos dias no Congresso Nacional, às vésperas de um recesso parlamentar e das eleições de outubro. Deputados e senadores cuidam de limpar a pauta, deixando para a sociedade uma conta difícil de pagar. 

A despesa, acrescentada de R$ 68 bilhões de gastos adicionais, terá de ser bancada pelo governo que tomar posse em 2019, que corre o risco, se não endividar mais o país, de não ter dinheiro para pagar o funcionalismo e os aposentados – as duas maiores despesas da União. 

Hoje, o governo gasta R$ 45 bilhões com a máquina pública e está na situação em que está, com um déficit de R$ 157 bilhões. Apesar disso, deputados e senadores estão aprovando uma série de matérias que representam elevação de gastos e redução da arrecadação. 

Os projetos, que aumentam despesas, anistiam pagamentos e refinanciam dívidas, são de autoria do Executivo, mas foram virados contra o governo ao longo da tramitação. Apesar disso, o senador Eunício Oliveira se disse orgulhoso de o Congresso ter cumprido seu papel. 

Não adiantaram as advertências de que o teto de gastos estava sendo furado e de que a irresponsabilidade iria aumentar a dívida interna. Até parlamentares e partidos aliados se aproveitaram da fraqueza do governo para votar contra e fazer média com o eleitorado. 

Para que isso, só o que explica são as eleições. Os parlamentares jogam para a plateia, conscientes, talvez, de que a farra, como está sendo chamado o episódio, será revertido pelo TCU, vez que não indicaram de onde vão tirar a receita correspondente aos gastos. 

Por isso alguns especialistas acham que o problema está sendo superdimensionado. O tempo corre a favor do governo. Não é provável que os projetos sejam aprovados antes das eleições. E o presidente eleito pode ser contra e se opor a sua aprovação. 

Seja como for, o episódio indica o nível a que chegou o comportamento dos parlamentares.