O período de pandemia tem sido pródigo em servir incertezas diariamente, mas poucos acreditariam que alguém precisaria pagar para conseguir vender petróleo. Contudo, é exatamente isso que significa o tombo de 305% da cotação futura do produto na Bolsa de Mercadorias de Nova York, registrado ontem. Em maio, quem tiver contratos do West Texas Intermediate (WTI), referência no mercado dos Estados Unidos, para negociar, terá que desembolsar US$ 37,63 em vez de lucrar.
Ter prejuízo com petróleo é algo impensável para gerações que cresceram dependentes do produto e viram guerras serem travadas nos mais diversos cantos do planeta por seu controle. Mas, hoje, a superoferta do petróleo diante de uma demanda enfraquecida pela urgência do isolamento deixou os países com estoques elevados, tornando inócuo o recente acordo assinado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para cortar a produção mundial em 9,7 milhões de barris por dia.
O mundo – e o Brasil – trabalha com outra referência de preços: o Brent, que fechou com uma retração bem menor, mas que não traz nem esperanças de grandes quedas do preço da gasolina na bomba dos postos, muito menos sinalizações positivas para a economia nacional.
As reservas do pré-sal, que geram grandes expectativas de receita para sustentar a recuperação da economia brasileira, precisam ser negociadas a cerca de US$ 35 o barril para que os investimentos em exploração valham a pena. O Brent para entrega em maio fechou US$ 10 abaixo desse limite, o que significa um freio no mercado justamente quando o país mais precisa da receita dessa commodity para enfrentar os gastos do combate ao coronavírus e a recessão que já bate à porta do país.