Cem anos de história. Fatos que marcaram gerações e que determinaram a evolução da sociedade brasileira são retratados em O Século do Globo, documentário criado por Pedro Bial e produzido pelos Estúdios Globo.

Composto por quatro episódios, que vão ao ar na TV Globo a partir desta terça-feira (8), o documentário apresenta eventos e personagens inesquecíveis, narrados através dos olhos de quem viveu e produziu notícia ao longo dos últimos 100 anos.

O projeto, que combina ficção com elementos documentais e entrevistas inéditas, ilumina a trajetória do jornal fundado por Irineu Marinho e conduzido por décadas por seu filho Roberto Marinho, ilustrando seu papel na evolução do jornalismo brasileiro e do próprio país na política, na economia e na cultura.

Os episódios da série serão exibidos na TV Globo de terça a sexta-feira, logo após Vale Tudo. E, após a exibição do primeiro episódio na TV, a série completa ficará disponível no Globoplay, permitindo ao público assistir como e quando quiser, seja acompanhando diariamente ou maratonando no streaming.

O jornal, que completa 100 anos no dia 29 deste mês, marcou o início do que se tornaria o maior grupo de mídia e comunicação da América Latina.

“A história dos 100 anos do jornal O GLOBO não é só uma história sobre o jornal, trata da matéria prima do jornal: a realidade, os acontecimentos que formaram o Brasil no último século. A história com H maiúsculo”, declara Pedro Bial.

“O jornalismo tem que ter a grandeza de se curvar à realidade. E, num arco longo de 100 anos, é possível acompanhar as transformações sociais e culturais e as mudanças na linguagem do jornalismo e da comunicação”, complementa. A ideia de narrar os maiores acontecimentos históricos do país, sob a perspectiva do maior jornal brasileiro, nasce ainda na redação de O Globo, e ganha vida no documentário.

No elenco, Tony Ramos e Eduardo Sterblitch interpretam Roberto Marinho em diferentes fases da vida. “Você leva um susto quando te convidam para interpretar um personagem icônico, que faz parte da história recente do Brasil”, afirma Tony Ramos.

Apesar de não ter convivido intensamente com Roberto Marinho, Tony explica que as lembranças de quando trabalhava no prédio da emissora no Jardim Botânico o ajudaram a compor o personagem.

“O que me chamava atenção – e que guardo com muita nitidez – era a forma como ele chegava: cumprimentava a todos, com naturalidade, chamando muitos pelo nome. Nunca evitava o contato, pelo contrário, havia ali uma presença muito humana, muito respeitosa. Era um homem sereno, muito bem-posicionado, com uma voz baixa, pausada e uma postura sempre muito segura”.

Nascido em 1987, Eduardo Sterblitch não conviveu com Roberto Marinho. “Sempre o enxerguei como uma espécie de Walt Disney brasileiro, um realizador de sonhos. Alguém que fazia o impossível acontecer”, afirma Sterblitch, que enalteceu o trabalho em dupla com Tony Ramos.

“Tentamos ser muito sensíveis ao que estávamos construindo juntos. O verdadeiro desafio é encontrar quem esse homem foi por dentro. Esse visionário, esse sonhador que teve coragem de erguer algo grandioso como uma televisão daquele porte no Brasil. É isso que precisa aparecer: o espírito dele. E isso só se alcança com escuta, entrega e verdade”.

Além de Tony Ramos e Eduardo Sterblitch, a série conta com os atores Bruno Mazzeo, Rodrigo Simas, Marcelo Airoldi, Ravel Andrade, João Vitor Silva, Miguel Rômulo, Livia Silva, entre outros.

Para contar essa história, a narrativa de O Século do Globo é guiada em três eras específicas. O período entre 1925 e 1954, na primeira redação do jornal; os anos 1960 e 1970, com o jornal em uma sede maior; e por fim, de 1980 a nossos dias, marcados pela modernização tecnológica.

As antigas redações foram recriadas de forma inédita no Estúdio de Produção Virtual dos Estúdios Globo, o maior da América Latina, inaugurado no fim de 2024. A reconstituição só foi possível graças à tecnologia do estúdio, que conta com câmeras com tracking de alta precisão e recursos de Inteligência Artificial e Realidade Aumentada.

“Conseguimos realizar algo extraordinário: graças aos novos recursos dos Estúdios Globo, sob a liderança de Gian Carlo Bellotti, foi possível recriar as redações históricas. Pessoas que trabalharam nesses ambientes – e mesmo aquelas que apenas conheciam as fotografias – tiveram reações emocionadas. Foi realmente impressionante. A sensação foi como aquela nostalgia que sentimos por algo que nunca vivemos, uma saudade do que não existiu. Nesse cenário, as pessoas se sentiram confortáveis para compartilhar seus testemunhos de forma espontânea e sincera”, conta Pedro Bial.

O set serviu de cenário para 48 entrevistas inéditas feitas para o documentário. Depoimentos carregados de emoção e riqueza de detalhes, que refletem a atmosfera nostálgica de quem revisitou o passado e ajudou a construir o futuro da comunicação.

Além de entrevistas com os filhos de Roberto Marinho (João Roberto Marinho, José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho) e com os netos Paulo Marinho e Roberto Marinho Neto, a série ouviu nomes como Leonêncio Nossa, Ali Kamel, Miriam Leitão, Merval Pereira, Fred Kachar, Pedro Dória, Fernando Gabeira, Flávia Oliveira, Domingos Peixoto, e o funcionário mais antigo do jornal, Marcelo Monteiro.

A trajetória do jornal O Globo

Fundado em 29 de julho de 1925, no Rio de Janeiro, por Irineu Marinho, o jornal O Globo surgiu diante da promessa de uma imprensa moderna, conduzida a serviço da população brasileira e que fosse, sobretudo, independente aos rumos da política nacional – aspecto este que continua guiando o DNA do veículo até hoje, um século depois. Após o falecimento de Irineu Marinho, menos de um mês depois da criação do periódico, o jornal seguiu seu legado de modernidade e isenção, sob direção de Roberto Marinho, que se tornaria figura central na história do jornalismo brasileiro.

Ao reconhecer que a trajetória do jornalismo brasileiro se confunde com a história do próprio país, a obra ainda destaca jornalistas do periódico que contribuíram para o desenvolvimento da cultura, política e do esporte no Brasil, como Nelson Rodrigues, Mário Filho e Evandro Carlos de Andrade.

“O jornal desempenhou um papel fundamental na cultura, na política e na formação de leitores. Grande parte dos valores presentes no jornal O Globo está incorporada no pensamento da Globo como um todo. A valorização da imagem, a inovação gráfica, o olhar humano e, sobretudo, a vontade de instruir e ser relevante. Essa gênese criativa, que começou em 1925 permanece viva até hoje. Poder contar essa história é testemunhar até onde uma ideia e uma vontade podem chegar”, afirma o diretor artístico do documentário, Gian Carlo Bellotti.

O Século do Globo vai ao ar na TV Globo a partir desta terça-feira (8) até sexta-feira (11), logo após Vale Tudo. Após a exibição do primeiro episódio na TV, a série completa ficará disponível no Globoplay.

Entrevista com Pedro Bial

Quais foram os pontos de partida para o desenvolvimento do projeto?
A história dos 100 anos de O Globo não é só a história do jornal. Trata da matéria prima do jornal: a realidade, os acontecimentos, os eventos que tomaram conta do Brasil no último século. A história com H maiúsculo. O jornalismo tem que ter a grandeza de se curvar à realidade. E, num arco longo de 100 anos, é possível acompanhar as transformações sociais e culturais e as mudanças na linguagem do jornalismo e da comunicação.

O Globo começou como jornal vespertino, vendido à noite para as pessoas que voltavam para casa e liam as notícias nos bondes – uma espécie de antecipação do rádio e dos telejornais. Hoje, vivemos em um mundo totalmente conectado, onde todos têm acesso a informações o tempo todo, e o jornal continua cumprindo sua função, agora com desafios e responsabilidades ampliadas.

Para contar essa história, buscamos linhas mestras que atravessassem momentos-chave do jornal e, coincidentemente, da história do Brasil. Desde sua primeira edição, idealizada por Irineu Marinho, o jornal nasceu com uma vocação para a imagem e a modernidade. O Rio de Janeiro, então, já era uma cidade moderna, com cerca de 20 jornais circulando simultaneamente, e foi nesse cenário que O Globo surgiu, destacando-se pelo seu arrojo visual e gráfico.

Essa vocação visual se fortaleceu com a chegada de nomes como Mário Filho e Nelson Rodrigues, na virada dos anos 1930, que renovaram a linguagem do jornal, coincidindo com a direção de Roberto Marinho. Além disso, O Globo sempre manteve uma ligação profunda com a cultura brasileira. Desde Irineu, que foi um dos responsáveis por aproximar o morro e o asfalto no Rio, o jornal esteve presente nas discussões sobre a questão negra, o samba, o choro, o Carnaval.

Essa conexão cultural percorre os 100 anos de existência do jornal, não só em sua versão impressa, mas também no rádio, na televisão e na internet. O Globo não só reflete a cultura brasileira, mas também a produz. Um exemplo dessa dinâmica aconteceu em frente ao jornal, no Largo da Carioca: o jornalista de O Globo, Pereira Rêgo, foi atropelado, e pediu um beijo antes de morrer. A cena foi presenciada por Nelson Rodrigues, que, 20 anos depois, escreveria a peça O Beijo no Asfalto. Esse constante diálogo entre o Brasil, O Globo, a realidade, a grande história e as pequenas histórias, foi o que nos inspirou.

Como você conceitua o documentário O Século do Globo?
Será a primeira vez em que a versão da história do Brasil, da qual O Globo participou ativamente, será apresentada pelos próprios herdeiros do grupo e por quem esteve ao lado deles. Nem sempre contamos com arquivos, acervos ou imagens; em alguns momentos, a ficcionalização é necessária para alimentar o imaginário e dar vida à grande aventura que é essa trajetória. Queremos abordar a história de forma profunda, séria, para que o trabalho fique como um documento histórico.

Como a tecnologia apoiou a construção do documentário?
Conseguimos realizar algo extraordinário: graças aos novos recursos dos Estúdios Globo, sob a liderança de Gian Carlo Bellotti, foi possível recriar as redações históricas. Pessoas que trabalharam nesses ambientes – e mesmo aquelas que apenas conheciam as fotografias – tiveram reações emocionadas.

Foi realmente impressionante. A sensação foi como aquela nostalgia que sentimos por algo que nunca vivemos, uma saudade do que não existiu. Nesse cenário, as pessoas se sentiram confortáveis para compartilhar seus testemunhos de forma espontânea e sincera.

O presente interpreta o passado; o passado não explica o presente. Ao assistir a esse material, percebemos que tínhamos uma história ainda mais profunda e rica para contar.

Entrevista com o diretor artístico Gian Carlo Bellotti

Por que a decisão de misturar elementos documentais e dramaturgia?
Decidimos focar em três décadas específicas para guiar a narrativa. Primeiro, o a década de 1920, quando surgiu a primeira redação do jornal O Globo. Em seguida, avançamos para os anos 1960 e 1970, período marcado pela mudança para uma sede maior, início da modernização e expansão da estrutura do jornal.

Por fim, chegamos às décadas de 1980 e 1990, quando a modernização se intensificou com a introdução dos computadores. Essas três fases distintas formam a espinha dorsal da história, complementadas pela redação atual, ainda ativa e produzindo o jornal do futuro.

Como base para os depoimentos, as redações foram cuidadosamente reconstruídas, pois as originais já não existiam. Os relatos são gravados nesses ambientes, junto aos personagens que viveram aqueles momentos. Além disso, o projeto inclui dramatizações de fatos importantes da trajetória do jornal, sempre ancoradas em fotos ou imagens que ajudam a contar essa história de forma envolvente, visual e humana.

Como o Estúdio de Produção Virtual contribuiu para a reconstrução das redações?
A reconstrução dessas redações só foi possível graças ao Estúdio de Produção Virtual. As equipes de cenografia e produção de arte criaram cerca de 10% do cenário de forma física; o restante foi inteiramente virtual, desenvolvido a partir de pesquisas, registros históricos e imagens da época, utilizando um sofisticado aparato tecnológico, com telões de LED e inúmeros computadores. Conseguimos recriar até os computadores da época, que já não existem mais, tanto de forma física quanto virtual.

Foi emocionante ver as pessoas que trabalharam nessas redações entrarem nos ambientes reconstruídos, sentarem-se em suas antigas cadeiras e serem tomadas pela emoção. Esse processo de imersão foi fundamental para ativar as memórias e emoções que surgiram nos depoimentos de profissionais que dedicaram 20 ou 30 anos ao jornal O Globo.

A primeira redação da década de 1920, em particular, emocionou profundamente a família Marinho e outros que tinham proximidade com essa fase da história. Muitos só conheciam aquele ambiente por meio de fotos ou relatos do próprio Roberto Marinho.

Foi tocante ver os filhos se emocionarem ao entrar no grandioso Estúdio de Produção Virtual, sabendo que tudo começou naquela pequena redação em 1925. Essa reconstrução reflete a essência da Globo e dos Estúdios Globo: inovação, empreendedorismo, espírito familiar e a busca constante por relevância.

O que será mais especial de apresentar ao público neste documentário?
Falar dos 100 anos do jornal O Globo é também revisitar um século da história recente do Brasil. O jornal desempenhou um papel fundamental na cultura, na política e na formação de leitores, sempre em busca da melhor notícia.

O público terá a oportunidade de relembrar grandes acontecimentos que influenciaram nossa vida política e pessoal ao longo desse período. Tudo contado pelos olhos de quem viveu e produziu essas histórias. O resultado é um documento histórico que traz, além dos fatos, uma forte carga emocional.

Grande parte dos valores presentes no jornal O Globo está incorporada no pensamento da Globo como um todo. A valorização da imagem, a inovação gráfica, o olhar humano e, sobretudo, a vontade de instruir e ser relevante. Essas marcas muitas vezes se confundem, pois fazem parte de uma mesma força criativa, movida pelo desejo de empreender, inovar e contar boas histórias.

Essa gênese criativa, que começou em 1925 permanece viva até hoje. Poder contar essa história – de onde tudo começou, de um século inteiro – dentro da estrutura atual dos Estúdios Globo é testemunhar até onde uma ideia e uma vontade podem chegar.

O documentário O Século do Globo é uma produção dos Estúdios Globo, com criação de Pedro Bial. Tem roteiro final de George Moura, Ricardo Calil e Renato Onofre; roteiro de Flávia Bessone e Renato Vieira Terra; pesquisa de conteúdo e imagens de Pedro Motta Gueiros, Priscila Serejo e Julia Schnoor; direção documental de Dudu Levy, direção de dramaturgia de Pedro Peregrino; direção artística de Gian Carlo Bellotti; produção executiva de Raphael Cavaco; produção de Ana Luisa Miranda e Anelise Franco, e direção de gênero de Monica Almeida e José Luiz Villamarim.

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