A TV Globo no momento apresenta no fim de tarde a segunda versão de A Viagem (1994), de Ivani Ribeiro, no Vale a Pena Ver de Novo. Algumas horas mais cedo, entre o Jornal Hoje e a Sessão da Tarde vai ao ar outro repeteco, o de História de Amor (1995-96), de Manoel Carlos, na faixa intitulada Edição Especial. Já foi anunciada para a vaga a partir de setembro Terra Nostra (1999-2000), de Benedito Ruy Barbosa, quase 21 anos após o término de sua primeira e até aqui única reprise em TV aberta.

No SBT, depois do almoço vai ao ar a mexicana Maria do Bairro (1995-96), lançada no Brasil em 1997. O texto é de Carlos Romero e Alberto Gómez, a partir de obra original de Inés Rodena. A Record leva ao ar às 15h30 O Rico e Lázaro (2016-17), de Paula Richard, e já anunciou que a substituta será A Escrava Isaura (2004-05), de Tiago Santiago e Anamaria Nunes, da obra homônima de Bernardo Guimarães.

A Band também tem no momento uma reprise de novela no ar – a da portuguesa Valor da Vida (2018-19), de Maria João Costa, que a emissora exibiu à noite em 2022-23 e agora transmite às 7 da manhã.

À exceção da história portuguesa e de História de Amor – que em 30 anos foi reapresentada somente uma vez pela TV Globo, em 2001-02 -, todas as outras já foram reprisadas em diversas ocasiões. Maria do Bairro está no ar no SBT pela oitava vez – ou sétima, como queiram os que não puderam acompanhá-la nas emissoras sem grade local que a transmitiram em 2015-16.

Já para reexibir A Escrava Isaura à tarde em setembro, na sexta reprise, a Record dá como desculpa a celebração dos 150 anos de lançamento do romance original, com uso de inteligência artificial nas imagens.

Além disso, já que falamos de TV aberta, A Escrava Isaura foi levada ao ar outras quatro vezes (por enquanto): uma na TV Brasil, em 2022, e três na Rede Família, do mesmo grupo da Record, entre 2022 e 2024. Em 2022 a novela chegou a estar no ar por quase cinco meses em dois canais diferentes.

A Viagem está em seu terceiro repeteco na grade vespertina da TV Globo – mas o VIVA, hoje Globoplay Novelas, apresentou a história em três ocasiões – 2014, 2020-21 e 2024. O mesmo VIVA exibiu também a mexicana Maria do Bairro, já que a Globo adquiriu os direitos da produção para TV paga e streaming. Embora no momento o +SBT também disponibilize os capítulos, eles seguem no Globoplay.

É possível que, em resposta ao título, as emissoras de TV sigam insistindo nas mesmas poucas novelas, alternando-as em suas faixas de reprise, enquanto o público reagir bem a essas voltas que se multiplicam, por vezes em curto espaço de tempo. E em geral os espectadores têm sim reagido bem a elas.

Resta saber até quando – e enquanto isso títulos importantes da teledramaturgia são desgastados sem necessidade – e o quão nocivo isso pode ser para as outras novelas, menos lembradas para o expediente, algumas das quais envelhecem e perdem apelo para que tenham ao menos a primeira de uma possível sequência de reapresentações.

Foram possibilidades como o VIVA e o Globoplay, de sucesso comprovado, que colaboraram para que a TV Globo perdesse certo pudor que existia de fazer como o SBT e a Record já faziam e reprisasse mais de uma vez as produções da casa.

Fora isso, entre as décadas de 2000 e 2010 a dificuldade de aproveitamento de novelas das 20h/21h era grande, o que levou o Vale a Pena Ver de Novo a recorrer a novas reprises (ou “rerreprises”) de títulos como Mulheres de Areia (1993), de Ivani Ribeiro, O Cravo e a Rosa (2000-01), de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira, e Da Cor do Pecado (2004), de João Emanuel Carneiro, para citar apenas alguns. Nem sempre funcionou tão bem, mas nos últimos anos a prática tem mostrado novo fôlego.

No caso de emissoras com acervo menor do que o global, as “rerreprises” se tornam mais compreensível, mas nem por isso menos evitáveis dentro do possível. O SBT exibiu com sucesso diversas novelas mexicanas nos anos 2000, mas várias delas nunca mais voltaram à programação.

Tanto SBT quanto Record também pecam em ocupar faixas noturnas com reprises, o que desgasta ainda mais produções de potencial de audiência como as novelas infantojuvenis e bíblicas que têm sido a tônica de sua estratégia já há alguns anos.

É claro que é bom para o noveleiro de carteirinha ter na TV aberta novelas de 20 ou 30 anos outra vez no ar. Mas isso pode ser feito de forma a não esgotar uma pequena parte do acervo, com uma abertura do leque para diversas outras produções reprisadas uma ou mesmo nenhuma vez no decorrer do tempo. Não são criados novos clássicos caso os títulos não sejam vendidos como tais em reprises e iniciativas do gênero.

Ainda que A Viagem estivesse fora do ar desde 2006 na TV Globo, seja uma ótima novela e tenha público garantido, por que não apostar em menos obviedade? Por que o SBT não aposta em histórias que têm ido para o streaming, como As Pupilas do Senhor Reitor (1994-95), de Lauro César Muniz, da obra de Júlio Dinis? Por que a Record não expande as opções para Cidadão Brasileiro (2006), do mesmo Lauro César, Marcas da Paixão (2000), de Solange Castro Neves, ou Vidas Cruzadas (2000-01), de Marcos Lazarini? Todas conquistariam novos públicos, e soariam como inéditas para toda uma geração.

Resgatada para surpresa de todos no final de 2024, Tieta (1989-90), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, da obra de Jorge Amado, mostrou que o espectador não precisa nem necessariamente quer ver apenas algumas poucas novelas se alternando em suas tardes. Todos saem ganhando com uma mudança nessa política.

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