Percebi algo que ninguém menciona: a fofoca parte de você!
Não é o outro que espalha o boato, é você que conta um medo, e ele acaba se tornando verdade na boca alheia.
O termo correto seria “autofofoca”. Temos a fabulosa capacidade de falar mal de nós mesmos e depois não sabemos como tudo se propagou.
Quem mais condena você é você. Quem mais xinga você é você. Quem mais cobra de você é você.
Agindo de maneira automática, você esquece que faz isso e pensa que as pessoas inventaram a maledicência. Elas não chegaram a conclusões do nada, você forneceu as evidências.
Se você diz que está descontente com o casamento, haverá a fofoca sobre separação.
Se você confessa que já não aguenta o emprego, haverá a fofoca da sua indisposição.
Se você chama um amigo de “insuportável”, prepare-se, porque ele será informado.
Somos mensageiros do nosso universo interior. Mandamos correspondências de como nos tratamos a toda hora, dentro das conversas mais banais e singelas.
A forma como você se enxerga determinará o espelho coletivo. Suas palavras atraem o seu destino.
E assim, como uma consequência da falta de autoestima, não convivemos bem com os elogios e sequer acreditamos neles, sempre desconfiados de nossa inteligência ou beleza.
Sem notar, terminamos nos banalizando nas reclamações. Não há nada mais chato do que aquele que só se queixa da sua existência.
Minha esposa, mineira da gema e da claridade, dona de uma discrição férrea, foi quem me ensinou: cuide de como você se cuida. Passei a prestar mais atenção na minha linguagem. A me vestir com os melhores vocábulos.
Parei de me praguejar quando chuto as quinas dos móveis. Parei de me ofender no momento das minhas distrações. Parei de me insultar nas adversidades e fracassos. E as fofocas pararam. Cessaram. Desapareceram.
Ou as pessoas começaram a me depreciar longe de mim, na proteção da distância, ou eduquei os meus ouvidos a detectar apenas os elogios. Valorizo exclusivamente quem me inspira e me incentiva.
Não me fio mais em críticas construtivas – não deixam de ser uma arma eufemística da inveja. É a dissimulação de quem finge ajudar. Acautele-se dos samaritanos.
Nossa passagem é curta demais para viver sob vaias.
Houve uma transformação. O que paralisa a nossa trajetória é nunca nos acharmos bons o suficiente.
Aí existe uma sutileza: escolher como você se apresenta para o mundo.
Querer o seu melhor não significa não se julgar capaz – guarde essa frase.
Ser exigente consigo não equivale a não se amar. Quem não se ama tem um temperamento desleixado, tolerante em excesso, permissivo com o mal e o veneno, aceitando reprovações de seu modo de ser.
Por exemplo, eu não entendia a insatisfação de Beatriz com as suas imagens. Ela demora para postar porque demora para escolher. Como eu a vejo linda de qualquer jeito, considerava um desperdício de tempo a sua sucessão de cliques e selfies. Diferentemente dela, eu postava a primeira foto que tirava.
Descobri que ela não estava errada, eu é que me mostrava ansioso.
Ela tem todo o direito de selecionar com rigor como pretende se expor, e para quem.
Tem todo o direito de ser incrível para si. Ela se conhece, e se gosta.