Caros novos vereadores, sejam bem-vindos. Quem lhes escreve é um mero contribuinte, um dos milhares de belo-horizontinos que bancam seus altos salários, férias, motoristas e privilégios. Sempre interessado nos destinos da minha cidade, tomo a liberdade de enviar-lhes observações de um cidadão atento aos atos dessa egrégia casa.
A renovação da Câmara alcançou cerca de 60%. Muito bem, mas ainda acho pouco. Na minha opinião – e certamente na visão de muitos eleitores – a reeleição é uma coisa absurda, um meio de vida suspeito. Deveríamos trocar todos os representantes políticos, sempre. Andamos enfarados daquela turminha cujo desempenho parlamentar em quatro anos se resume a inventar maneiras de ficar mais quatro.
Historicamente, esse grupo adora filantropias, ajudas esporádicas a instituições diversas, propostas para nomes de ruas, datas comemorativas e puxa-saquismo partidário. Há ainda especialistas em autoelogios; faixas que os próprios mandam pintar em nome da vizinhança. Por causa desses, muita gente já diz por aí: “espera aí, para que serve mesmo um vereador?”
Porém, sejamos otimistas; entre os eleitos existem novos nomes e currículos consistentes. Além dos ativistas da moda, militando em seus – digamos - nichos de mercado, há outros jovens com tesão e disposição para melhorar a vida da comunidade. O que diríamos a essa nova safra?
De cara, que se conscientizem de seus papéis de representantes de uma das maiores e mais complicadas cidades do país. Há direitos e deveres, embora os primeiros sejam descaradamente usufruídos e os segundos sistematicamente desprezados. Antes da posse, aproveitem o isolamento social e enfiem as caras na Lei Orgânica do Município e no Plano Diretor. Conheçam as diretrizes que regem a cidade; atribuições, alçadas e limites dos gestores públicos. Grande parte dos vereadores nunca fez isso.
Ao contratar assessores, escolham gente qualificada, com formação técnica, idealismo e vontade de trabalhar pela comunidade – e não o filho do empresário que ajudou a pagar os santinhos ou compinchas ideológicos, sedentos por uma boquinha na folha de pagamentos da Câmara.
É legítimo, permitido e recomendável sonhar com uma cidade melhor – porém, sem perder de vista a matemática. Pintou uma ideia? Que legal! Vamos ver se será possível realizá-la e, principalmente, quanto ela custará. O dinheiro virá de um orçamento já aprovado, criteriosamente construído pelos técnicos do município com base em dados e números reais. Assim, não basta dizer “oba, vamos fazer tal coisa” e exigir a verba, batendo o pé. A despesa é a eterna escrava da receita e esta não admite brincadeiras.
Quando falar em público – ao expor ou discutir projetos seus e de colegas no plenário – você não necessita ser um mestre da oratória e da eloquência. Porém, externe suas razões ou questionamentos de forma clara, civilizada e compreensível. Fazer política é também saber falar, ouvir e ponderar. Presenciei um evento onde um edil atropelou a semântica, destripou a concordância, sapateou sobre a prosódia e deixou o púlpito sem que entendêssemos a razão de ter subido ali.
Por outro lado, espero que nos próximos quatro anos vocês não inventem mais uma campanha publicitária para tentar iludir o povo, insinuando que vereadores estão trabalhando felizes, dedicados e honestamente por nós. Vocês estão aí para isso mesmo, não fazem mais que suas obrigações, certo? Ninguém acredita em propaganda oficial – somente os publicitários de olho no dinheiro público.
Gato escaldado, confesso que minha expectativa é baixa. No entanto, se após quatro anos ganharmos, pelo menos, ruas menos sujas no sentido sanitário e uma Câmara mais limpa no sentido ético, já me darei por satisfeito. Coragem e boa sorte a todos.