Outro dia, o ministro Paulo Guedes disse uma frase ótima: “O Brasil é semelhante a um carro de Fórmula 1. Motor poderoso, centenas de HPs, pronto para disparar – só que com o freio de mão puxado”. Achei perfeita a analogia; já tive essa impressão várias vezes.
Hoje é fácil identificar a turminha responsável pela trava histórica que nos assombra. Não só puxaram o freio de mão por temporadas seguidas, como também meteram água na gasolina, sabotaram a injeção eletrônica, provocaram curtos-circuitos e – principalmente – roubaram a grana da equipe. Os argumentos para isso foram os mais variados; geralmente, acenando para a necessidade de uma vitória que nunca acontecia.
Só rindo, pra compensar... Daí, como seria uma equipe estatal de Fórmula 1, uma escuderia nacional burocratizada? Primeira medida: a criação do novo Ministério do Grande Prêmio, com apaniguados dos partidos aliados mamando na Secretaria de Rodas & Pneus, na Subsecretaria de Porcas & Parafusos ou na Seção de Controle dos Ângulos dos Aerofólios.</CW>
A seleção dos pilotos e mecânicos envolveria um processo longo e complicado. A capacidade técnica dos candidatos e suas experiências não importariam muito. O RH teria como norma contratar pilotos e mecânicos de todas as etnias, minorias, crenças religiosas, representantes de movimentos populares, indígenas, transgêneros e de orientações afetivas diversas.
Tal critério resultaria numa confusão danada nos boxes, gente pra todo canto, uns trombando nos outros, batendo bocas, gritando “questão de ordem, questão de ordem!”. Para acalmar a turma, depois de muita briga, optariam pela pilotagem democrática e coletiva: trinta e dois pilotos se revezariam ao volante – trocas de pneus e de pilotos a cada volta.
Nas disposições gerais do ministério, artigo 5º, parágrafo 12, estaria determinado que o pit-stop deveria ser solicitado pelo piloto com 72 horas de antecedência, preenchendo formulários em cinco vias para o carimbo e a assinatura do diretor e assessores. Mesmo assim, no reabastecimento, o bólido estatal ainda aguardaria na fila, já que, em dias de corrida, a presença dos funcionários públicos ao box era facultativa.
A fabricação do carro também seria cabulosa – para usar um termo da moda. O estudo encomendado pelo ministério para definição da performance aerodinâmica se arrastaria durante anos, consumindo milhões. Logo descobririam um escândalo envolvendo a filha do ministro e seu namorado – por coincidência, o dono da empresa encarregada do projeto.
Viriam CPIs, discursos na Câmara, Polícia Federal acordando os amantes no leito pecaminoso às 6 da matina – essas coisas de sempre. Após muita confusão, a carroceria precisaria ser aumentada às pressas para que coubessem todas as logomarcas dos órgãos e empreiteiras patrocinadoras. As verbas de publicidade – superfaturadas – fariam os publicitários amigos e as TVs ganharem fortunas.
E a torcida? Bandeiras, camisetas e bonés estariam à disposição dos convidados VIP – representantes dos Três Poderes acompanhados de parentes até terceiro grau. Instalados em camarotes com ar-condicionado, massagistas, música ambiente, bar, champanhe e salada de lagosta, teriam direito ainda a shows de artistas baianos. Tudo pago com verbas especiais de gabinete, dotações orçamentárias e suplementações de emergência.
Na hora H, minutos antes da largada, rolaria o maior rebu no grid: um grupo de manifestantes descontentes com as políticas públicas do ministério invadiria a pista com bandeiras, faixas, palavras de ordem e metendo fogo nos pneus – sua especialidade.
Deputados e advogados desceriam ao asfalto. Discursos inflamados, imprensa investigativa histérica, entrevistas. Uma ativista berraria para as câmeras: “Por que o vencedor é sempre aquele que chega primeiro? Isso é preconceito, é autoritário!”.
É, acho que não daria certo essa fórmula.