Mal saiu o nome do novo ministro da Educação e choveram críticas na imprensa e nas redes. Preconceitos dos bravos, sobretudo provenientes de nossa “elite intelectual”, aquela que esperneia apenas quando na condição de vítimas deles. O chilique vem do fato de Milton Ribeiro ser pastor evangélico. Ora: competência não exibe carteirinha com carimbo; não se comprova antecipadamente nem escolhe profissões ou especialidades. Vamos avaliar o desempenho dele daqui em diante – e não sapecar-lhe já um estigma. Nossa educação teve à frente nulidades de todos os perfis ideológicos e que pouco fizeram por ela, precisa de novos rumos e de recursos com urgência.
Pesquisa recente de um professor da PUC de Brasília concluiu que mais da metade dos universitários do Distrito Federal está abaixo da linha da mediocridade em termos do aprendizado previsto, dos conhecimentos gerais, amplitude de linguagem e meios de expressão. Um percentual bem alto enquadra-se ainda no triste patamar do analfabetismo funcional, jovens incapazes de compreender efetivamente aquilo que leem, preferindo o decoreba.
É um pequeno recorte no panorama do Brasil. Parte desse desastre nasceu da modinha acadêmica nacional de se gastar mais tempo com ativismo do que com estudo. Por outro lado, é necessário rever métodos educativos adotados no país desde o ensino básico e – principalmente – decifrar, de fato, a cabeça e as motivações do jovem do milênio.
Um exemplo curioso vem da Itália. Imagine uma turma de típicos adolescentes cabeludos, cheios de tatuagens e piercings assinando uma folha de papel com os seguintes dizeres: “juro que me empenharei a manter um clima favorável ao aprendizado na minha escola, compartilhando as emoções, a solidariedade e a ajuda recíproca; que aceitarei a diversidade de meus colegas, tratando-os sempre com gentileza. Prometo contribuir para que nossas aulas sejam úteis e sem confusões.”
O pacto, firmado no Liceu Fogazzaro da cidade de Vicenza, é uma ideia do professor Simeone Ariot. A proposta foi levada aos pais com tempo suficiente para discutirem e decidirem se a família inteira toparia aceitá-la. Os professores assinaram também o trato, onde se lia: “o professor não é um inimigo, mas um cara do mesmo time”.
A novidade envolveu combinados importantes e alguns até divertidos. Os primeiros dizem respeito à rejeição ao “bullying”; à aceitação de cada colega do jeito que ele for; ao exercício da camaradagem. Os itens mais engraçados continham até dicas sobre o vestuário no ambiente da escola. “Posso me vestir como bem quiser – diz o “contrato” – estilo fashion, informal ou até punk, mas sem me esquecer que a escola é um local de aprendizado – e não uma academia ou uma rave”.
No final de 2019 deu para perceber que as aulas tornaram-se mais produtivas; alunos do liceu Fogazzaro fizeram bonito em torneios de matemática e ciências. O orgulho claramente estampado nos rostos da moçada comprova que ela se sente vencedora de alguma forma. Embora interrompido pela pandemia, o pacto serviu para reflexões e planejamento de novos formatos no retorno às aulas presenciais de setembro próximo.
Surpreendente constatar como a pandemia está promovendo reviravoltas inéditas da educação no mundo inteiro. No Brasil, entretanto, a evolução para a modernidade não é unânime. Enquanto a rede privada mira o futuro, se esforça e se reinventa na busca da qualidade e da sobrevivência, senhores mestres e doutores de muitas universidades federais preferem usar a pandemia para as politicagens de sempre.
Com salários garantidos pelo dinheiro público – aquele extorquido de nossos bolsos para fins exóticos – a turma vai enriquecendo seus currículos no ócio, no ódio, na birra e na militância inconsequente. A pandemia estimulou a recaída dessa velha doença. Infelizmente parece não ter cura. Mas podemos vacinar as novas gerações contra ela.