Notícia divertida: a mãe de um rapaz de 23 anos andava estressada porque o filho não arrumava namorada. Deve ser mesmo incômodo ter um marmanjo dentro de casa agarrado nos games e no celular, hormônios fervendo.
Esperançosa, a tal senhora ergueu os olhos aos céus. E, em vez de santo Antônio, o casamenteiro, viu a nuvem do Facebook frequentada por milhões de moças. Na imensidão virtual postou mensagem enaltecendo as virtudes de seu garotão. O apelo viralizou, sucesso total. Se der final feliz, receio apenas que o cara ligue afobado para a mãe pedindo ajuda – também – na hora de amar sua gata com o carinho e a competência que as mulheres apreciam.
Vocês sabem a que estou me referindo.
Essa história do Facebook é um retrato revelador do momento que vivemos. E surge enquanto leio dois ótimos livros: “O Grande Circo”, de Pierre Clostermann, com relatos de pilotos aliados da Segunda Guerra Mundial; e a última obra de Robert K. Massie, Prêmio Pulitzer, sobre a vida do czar Pedro, da Rússia.
Com o mundo aos seus pés desde a infância, Pedro Naryshkin era, entretanto, dotado de humildade, determinação e disciplina. Aos 10 anos, fez construir uma pequena fortaleza e ali reunia os amigos para brincar. Porém, só tinha direito a ser “comandante” do castelo aquele coleguinha que passasse antes pelos cargos de limpador de latrinas, tocador de tambor, cuidador de cavalos e outros penosos ofícios – aos quais ele havia se submetido antes, por opção. Justificava a medida para “impedir que garotos nobres, arrogantes e muito mimados” pensassem que entrariam na “brincadeira já como generais”. Danadinho o Pedro, hein?
Não agia assim à toa, devia ser predestinação. O pai, o czar Aleixo, saiu mal agasalhado para um evento na gelada Moscou. Resultado: resfriado, gripe, pneumonia e morte em tempo recorde. Após o curto governo de um meio-irmão, Pedro tornou-se chefe da poderosa nação, aos 13 anos. De epíteto “o Grande”, respondeu pela modernização da Rússia, enfrentou tudo e todos e implantou reformas celebradas até hoje.
Em “O Grande Circo” há um capítulo dedicado a um célebre aviador alemão, Walter Nowotny.
Fantástico piloto de caça, ele teve a rara honra de ser reverenciado pelos adversários da RAF não só como um estupendo ás da aviação, mas também pelas atitudes. Nowotny era um crítico implacável do nazismo e de Hitler, que não o suportava e sempre o preteria. Não tinha vida mole nem privilégios. Apesar disso, com base em 435 missões de combate e 260 inimigos abatidos, foi promovido a comandante de nada menos que um terço da força aérea alemã aos... 23 anos – mesma idade do rapaz sem namorada ajudado pela mãe.
Claro: são realidades diferentes, até sob o ponto de vista das expectativas de vida.
Antigamente, os meninos se tornavam homens bem mais cedo porque adultos morriam cedo.
Porém, mesmo guardando as devidas proporções, há evidente preguiça de muitos jovens do milênio para assumir papéis maduros: indivíduos independentes, autossuficientes, com direitos (e deveres!), longe das barras das saias maternas, dos mimos e da proteção sufocante.
Hoje, estranhamente, a infância se arrasta muito além da adolescência. Não é uma regra, mas uma triste tendência. Na Itália, o fenômeno tem nome: são os “mammone”, filhos adultos que continuam dependendo dos pais para tudo. A vida lá fora os espera impassível, dura, exigente, sem manual de instruções. Nunca é fácil para quem se recusa a crescer de verdade, experimentando desafios, vitórias e fracassos. Incluindo, é claro, a responsabilidade de liderar nações, esquadrilhas aéreas ou até arrumar namorada.