O que você faz quando tem todo dinheiro do mundo, mas descobre que não tem mais tempo? E o que você faz com seu tempo, quando percebe que perdeu todo o seu dinheiro?
Dinheiro pode conseguir te comprar tempo em algumas situações, mas, em muitas outras, é em vão. Não existe fortuna que nos permita voltar no passado e reverter tempo desperdiçado em momentos de qualidade. Não existe montante que nos garanta dias adicionais – a vida é fugaz e, frequentemente, rara.
Com muito tempo e nenhum dinheiro, podemos nos ocupar de trabalhar e construir os recursos que precisamos para viver bem. Com muito dinheiro e nenhum tempo, nada se faz.
Tempo é nosso recurso mais precioso, mas a maioria de nós ainda negligencia esse valor.
Quando alguém nos pede dinheiro emprestado, temos facilidade de negar. Mas deixamos de notar que a todo instante existe alguém pedindo alguns minutos ou horas do nosso dia e que nós não ponderamos o empréstimo do tempo com a mesma cautela que fazemos com a moeda.
Venho exercitando a liberdade de negar meu tempo. Faço com todo respeito a quem o pede, porque, já que direcionamos nossas horas para as nossas prioridades, aprendi que não preciso me obrigar a dizer “sim” para prioridades alheias enquanto digo “não” para as minhas.
Talvez você tenha mais chances me pedindo para pagar um cafezinho para você do que para tomarmos juntos. E não é porque eu não goste de café ou porque não goste de você. Mas simplesmente porque algumas vezes faltam minutos para meus rituais de bem-estar, para brincar com meus filhos ou para tomar um vinho com meu marido, e, portanto, o tempo dedicado ao encontro acaba me custando muito mais do que o valor pago pelo expresso.
Dizem que o valor de qualquer coisa se mede pelo tanto de vida que trocamos por aquilo. Concordo. Não se recupera o tempo perdido. O dinheiro, sim.
Todos os dias é oferecido a cada um de nós o mesmo saldo na conta “tempo”. Como vamos investir é uma escolha pessoal. Se nunca paramos para pensar sobre a preciosidade desse recurso, é provável que acabemos vivendo em modo automático, sem selecionar com cuidado nossos investimentos. Cuidamos muito dos investimentos financeiros e esquecemos de definir com esmero estratégias para esse recurso que, apesar de ser renovado todos os dias, não é recuperável.
Se não reservamos tempo para construir nossa paz, precisaremos encontrar tempo para curar nossas angústias.
Quantas vezes negligenciamos nossa qualidade de vida e deixamos de canalizar nossos recursos para o que de fato nos traz paz? A sede por produzir e a glorificação do “estar ocupado” nos convencem de que rituais de autocuidado são perda de tempo. Até que, cedo ou tarde, nos vemos obrigados a parar a vida para praticar rituais de cura – para o corpo doente, para a mente angustiada ou para a cabeça dançada.
É necessário respeitar o tempo. E é mandatório dedicar alguma fração dele à manutenção da nossa sanidade. Cuidar da loucura custa mais caro e dá mais trabalho.
Talvez o que nos falte não são horas no relógio, mas sim organização e priorização. Talvez o que precisamos não é que o dia tenha 48 horas, mas que nossa agenda não seja focada nas urgências alheias. Talvez a gente precise perceber que tempo é, de fato, o recurso mais precioso que possuímos e que cada minuto merece ser investido com ponderação e critério.
Suspeito que estejamos gastando energia demais pensando sobre como devemos aplicar nosso patrimônio enquanto nosso tesouro mais precioso escorre pelas nossas mãos como se não tivesse valor.
Pare, respire e reflita: onde e em quem você tem escolhido investir seu tempo?