CAROL RACHE

O que você faz quando a emoção negativa bate à sua porta?

'Talvez se aprendêssemos a gerir toda a variedade de emoções que brotam em nós não teríamos que recorrer às estratégias extremas de nos apegarmos à dor ou de simplesmente não conseguirmos olhar para ela.'

Por Carol Rache
Publicado em 24 de julho de 2020 | 03:00
 
 
 
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Você é do time que abre a porta, convida a dor para entrar e oferece tanto cafezinho e pão de queijo que ela se sente à vontade para desfazer as malas e ficar? Ou pertence ao grupo que, para nem escutar a campainha, liga o som e promove logo uma festa?
 
Nesse caso, certo é quem responde que não é de nenhum dos dois. Fixar-se numa emoção negativa é tão tóxico quanto fugir dela. Se erramos a dose na hora de sentir uma dor, podemos nos identificar com ela de forma tão simbiótica que, em pouco tempo, ela parecerá tornar-se parte de nós.
 
No outro extremo, se ignoramos nossos desconfortos, perdemos a oportunidade de olhar para a parte de nós que deu origem a eles.
O caminho do meio, quase sempre, é a sugestão mais eficiente.
 
Gestão emocional não é matéria que compõe o conteúdo escolar. Deveria, mas isso ainda não acontece. Talvez se aprendêssemos a gerir toda a variedade de emoções que brotam em nós não teríamos que recorrer às estratégias extremas de nos apegarmos à dor ou de simplesmente não conseguirmos olhar para ela.
 
O fato é que nos ensinaram que o importante é ser feliz sem contar que, para isso, é fundamental ficar confortável com a tristeza. Não nos disseram que, cada vez que uma emoção negativa toca a campainha, traz consigo um envelope importante, contendo informações preciosas sobre nós mesmos.
 
Cada desconforto que nos invade só o faz para nos comunicar algo. São consequências de alguma crença, hábito ou atuação nossa que precisa de revisão. Contam-nos que há alguma parte nossa que já está pronta para ser revista e transformada. E, nesse sentido, podem ser considerados nossos aliados, e não nossos inimigos.
 
Contudo, são aliados passageiros. Não são hóspedes que vamos convidar para morar na nossa casa, mas são amigos que podemos topar receber para nos acompanhar numa xícara de chá – sem muita intimidade e, de preferência, sem pão de queijo.
 
É importante que a presença da dor não nos cause medo ou estranheza. É importante aprender a escutar o que ela diz. É importante observá-la com presença e sem racionalização. É importante sentir.
 
O envelope que os desconfortos trazem é sempre criptografado, e o conteúdo só é liberado quando o destinatário se propõe a sentir as emoções sem racionalizá-las e sem justificá-las.
 
A mente não consegue ler a mensagem porque esta é redigida numa linguagem conhecida apenas pelo coração.
 
Parece piegas, mas é real. As emoções desafiadoras podem se tornar grandes aliadas do nosso processo de crescimento se olharmos para elas como mensageiras e se nos propusermos a simplesmente senti-las. O que vieram informar?
 
Sentir sem racionalizar e deixar ir sem criar histórias que as transformem em personagens permanentes da nossa história.
 
É um equilíbrio entre saber convidá-las para entrar e saber informar que precisam ir.
Da próxima vez que a campainha tocar, não arrume a cama do quarto de hóspedes nem aumente o som para começar sua festa. Sinta, sem dramatizar e sem evitar. Depois, com o envelope aberto, investigue as entrelinhas da mensagem. O que dizem sobre você? Qual movimento te sugerem?
 
Porque não é sobre evitar aquilo que nos incomoda, mas sobre usar o incômodo como impulso para nos transformar. Use o desconforto a seu favor. Abra a porta, sinta, investigue e deixe ir.

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