A sociedade atual tem exigido muitos cuidados com a apresentação pessoal em ambientes públicos e privados, formais e informais, enquanto oferece inúmeros recursos para a estética, que compelem ao consumo de bens e serviços específicos. Ela impõe condições de vestuário, silhueta e higiene para absorção de candidatos pelo mercado de trabalho, formação de parceria amorosa e demonstração de equilíbrio emocional. Todos precisam corresponder aos modelos de beleza socialmente construídos, porque vivemos a era da imagem e informação para integração a essa nova ordem cultural.
As mulheres são acusadas de preocupação excessiva com sua aparência, enquanto se cobra que controlem o peso, escamoteiem o envelhecimento e corrijam anomalias genéticas ou congênitas. Qualquer deslize justifica a atribuição de papéis sociais irrelevantes, ignorando que a noção de beleza humana sedimenta-se na morfologia própria da espécie, em que o homem perde em harmonia corpórea para a mulher, numa inversão do fenômeno presente entre outros animais, em que o macho é sempre mais exuberante que a fêmea. Como elas vivem plenamente a maternidade, precisam, então, buscar com mais afinco os recursos que neutralizem o desgaste físico, usando vestuário mais criativo e vários acessórios. Essa preocupação não é recente, pois existem peças arqueológicas, dados etnográficos e obras de arte que indicam antigos cuidados com o corpo feminino, entre egípcios, gregos e romanos, entre muitos outros povos.
As brasileiras vêm manifestando mais interesse pelo embelezamento, diante de suas novas obrigações profissionais, da farta exposição de fotos nas redes sociais, do aumento da expectativa de vida, da ampliação de sua idade com a da prole e das dificuldades decorrentes da instabilidade conjugal.
O problema maior é excesso de peso, diante da comparação com top models em todos os veículos de comunicação. Isso gera busca acentuada por academias de ginástica, spas, alimentos dietéticos, fórmulas milagrosas de emagrecimento e reeducação alimentar, almejando recuperar a “barriga de tanquinho”, própria de adolescentes, após a gestação. Aliás, o volume do abdômen e a gordura nas costas são pesadelos, pois as mulheres querem se sentir seguras para usar roupas mais charmosas ou trajes de praia. O zelo é tão acentuado, que algumas chegam à bulimia ou à anorexia.
Há mais preocupação com as mamas, pois elas são estratégicas para a sedução amorosa. Querem que elas tenham o tamanho certo no lugar exato, mesmo que para isso seja necessário enxertar silicone ou fazer redução mamária, procedimentos que demandam repouso prolongado e muita habilidade do cirurgião para conferir simetria das duas porções.
As mulheres empenham-se também nos cuidados com a pele, os dentes, as unhas, o colo e, principalmente, os cabelos, que são a moldura do rosto. Tudo isso demanda atenção diária e muitas despesas, mas elas se sacrificam porque sabem que, além da cruel avaliação das amigas, podem perder o companheiro e seu trabalho, quando sua aparência torna-se fator de depreciação de sua pessoa.
A atenção excessiva pode caracterizar um distúrbio psíquico denominado “dismorfia corporal”, pois não é possível reproduzir um padrão externo, diante de peculiaridades físicas que impedem de atingir a perfeição desejada. A pessoa pode chegar à depressão profunda, especialmente se não consegue superar dificuldades materiais, emocionais e sociais, presentes no cotidiano de qualquer um.