O Congresso Nacional hoje, na pior composição de sua história, é o abismo que separa a política partidária formal da sociedade. Há um buraco negro no lado maior da praça dos Três Poderes, e dele brotou o atual quadro de diluição política que vivemos. Sim, foi de lá.
A Câmara não representa o povo brasileiro. Poderia representar no sentido constitucional, mas nem isso. Sobre se assimilar ao tecido social, fazer-se imagem, ser seu espelho, aí é que passam longe as excelências que frequentam o plenário Ulysses Guimarães (cujo espírito deve padecer de sofrimentos piores a cada sessão).
Deputados e senadores são homens, abastados, brancos e heterossexuais, majoritariamente. Tal caracterização já representa, de início, um desafio enorme de representação popular. Que dirá então quando estão em jogo os interesses que movem os jogadores.
Quando se diz que a legislatura da Câmara e do Senado é a pior, faz-se uma avaliação baseada em resultados e, a depender de quem a faz com esse veredicto, considera-se a não-priorização de interesses coletivos: uma questão de representação, portanto. É a pior por ser conservadora na essência, entendendo-se o termo em sua acepção básica, “ipsis litteris”, ou seja, constitui um grupo de senhores que visa à conservação do padrão atual de distribuição de acesso a poder político e econômico na sociedade. E, sim, eles se opõem às iniciativas entendidas como ameaças ao “status quo”, do qual se beneficiam, claro.
Mas o atual Congresso é o pior não apenas pelo que representa em suas preferências para a coletividade. São cidadãos da pior qualidade, avaliação que também se lê pela colheita. No plenário, especialmente o tal do Centrão ou o baixo clero, vicejam os amorais, os bandidos, os ignorantes, os intolerantes. São deputados e senadores egoístas, que fazem política para seu próprio enriquecimento, sem peia de ética ou lei.
Essa gentinha gasta a cota parlamentar com bobagem, viaja para o exterior para nada, vende emendas em projetos de lei, cobra e recebe propina de empresas interessadas em proposições, alastra-se por cargos públicos para que se faça no Executivo o mesmo que no Legislativo. É ela o pilar que sustenta o presidencialismo de coalizão: corrupto, fisiológico e estritamente mesquinho.
É essa casta de “pigmeus do boulevard”, sequiosa por poder, insidiosa, que vem implantando um parlamentarismo “de facto” no Brasil. Elegeram um gângster presidente da Câmara e, por ele, deram o golpe em um chefe de Estado eleito para favorecer o conservadorismo de valores e práticas. O processo de impeachment que tivemos foi voto de censura que não tem previsão em nosso presidencialismo.
Os senhores já enterraram a chance de eleição direta a partir de janeiro caso Temer caia até 2018. Querem eleger sozinhos o provável futuro presidente. Ou seria primeiro ministro? Além disso, circulam uma PEC para instauração de Assembleia Constituinte em fevereiro. Desse pessoal, só podemos esperar o pior, o pior, e o fundo do poço é uma noção otimista em se tratando do Legislativo brasileiro.
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