Minas Gerais registrou em apenas quatro dias uma sequência alarmante de crimes de ódio contra a população LGBTQIAPN+.

Em Teófilo Otoni, um grupo de homens em um veículo promoveu um ataque a bombas contra a Parada LGBT+ da cidade. 

Já em Virgem da Lapa, um homem foi esfaqueado durante um churrasco depois de ter sido vítima de homofobia e exigir respeito.

Em Pará de Minas, Cíntia, uma mulher trans, foi encontrada morta em frente à Câmara Municipal da cidade, após sofrer violência sexual e não conseguir atendimento adequado na rede pública de saúde.

Tudo isso acontece enquanto o governo Romeu Zema boicota a realização da Conferência Estadual LGBTQIA+, cancelando repasses e sabotando a construção coletiva de políticas públicas setoriais.

A Conferência Estadual LGBTQIA+ é um espaço no qual a comunidade pode discutir seus problemas e apresentar soluções. É um momento em que o movimento social se reúne para definir o que precisa mudar nas políticas públicas e levar essas propostas para o governo. A questão é que o governo Zema não quer e nunca quis nos ouvir.

Quando o Estado precariza, silencia e deslegitima vidas de determinado grupo populacional, o recado que passa é o de que essas vidas não importam.

Zema não só boicota políticas públicas para a população LGBT; ele verbaliza seu desprezo pelas minorias políticas e não tem pudor de declarar isso. Quando esse comportamento vem de lideranças políticas, uma parcela da sociedade se sente autorizada a odiar, atacar e matar.

Essa postura de negligência e de interdição não é de agora.

Em dezembro de 2024, Zema vetou a inclusão das pessoas LGBTQIA+ em um programa de geração de emprego e renda, que faria parte do Plano Plurianual de Ação Governamental entre os anos de 2024 e 2027.

Em janeiro do mesmo ano, o governador de Minas Gerais afirmou: “Se alguém é homem, é branco, é heterossexual e é bem-sucedido, pronto, é rotulado de carrasco”. A fala desconsidera os mais de 300 anos de escravidão e as múltiplas formas de reprodução racista e demonstra desconhecimento total de como a hierarquia e o biopoder operam na nossa sociedade.

Zema ainda vetou o Projeto de Lei 2.316/2020, que estabeleceria punições às empresas que discriminassem, coagissem ou atentassem contra direitos das pessoas em razão de orientação sexual, identidade de gênero ou expressão de gênero.

A narrativa liberal do gestor eficiente esbarra nos números, que mostram o desastre da administração estadual.

Entre 2022 e 2024, 60% das mortes de pessoas trans e travestis no estado ocorreram por crimes violentos, segundo estudo realizado pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O estado também é, ano após ano, a segunda unidade da Federação com mais registros de violência contra pessoas LGBTQIAPN+.

Além dos números duros, nos deparamos com a realidade e o cotidiano de quem vive sob a administração de seu partido.

Enquanto o discurso tenta sustentar uma imagem de modernidade e competência, a prática revela descaso com políticas públicas de proteção social, garantia de direitos, enfrentamento das violências e superação das desigualdades.

A vida concreta da população, marcada por episódios de ódio, insegurança e exclusão, desmente o marketing político e expõe as contradições de um modelo que privilegia resultados de fachada em detrimento da dignidade humana.

Nós, dissidentes de gênero, pessoas subversivas, que exigimos, para além do respeito, políticas públicas, reparação histórica e o direito ao bem viver para os nossos e as nossas, seguiremos firmes com o orgulho de ser, estar e exigir.