Qual é o prato do dia? É o que vem do caldeirão fervente onde se cozinha a batata das lideranças corruptas e ineficientes, não importa o partido, ou o nível de governo.
O Brasil das ruas tem fome de justiça, paz, qualidade dos serviços públicos. Tem fome de uma classe política que o represente dignamente.
Tem fome de democracia direta, participativa e de poder exercido como ferramenta, não como fim em si mesmo. Tem fome de soluções concretas em vez de lengalengas eleitorais que reconhecem o óbvio, para adiá-lo eternamente: mais investimento em saúde, educação e transporte.
As faixas e cartazes pedem o trivial. Não querem iguarias raras, apenas aquilo a que todo cidadão tem direito, ainda que não seja contribuinte. A jovem líder do MPL (Movimento do Passe Livre) em São Paulo abre o nosso apetite: “não estamos interessados nos números de planilhas incompreensíveis. Vocês que entendem delas tratem de achar uma solução”.
São Paulo puxa o trem nacional, que segue seu curso com novos vagões. Capitais, cidades médias, daqui a pouco também as pequenas vão aderir à maré de protestos. Em cada manifestação uma demanda específica. A costura dessa colcha de retalhos difusa, mas não confusa, é a fome de governos melhores e mais próximos do cidadão. O gosto na boca traz de volta as emoções de 83/84, de 92. E se a garganta ou os pés não têm o vigor incansável de então, há que se encontrar formas diferentes de participar dessa pajelança nacional, dessa cozinha cívica renovada de esperança.
Corruptos e corruptores devem estar na toca, se falando ao telefone, se perguntando até onde vai a “desordem”. Pessimistas, conservadores, beneficiários de todo tipo da pátria ofendida devem estar em casa, nos escritórios, esperando a onda passar. Chamaram e chamarão sempre de baderneiros os lutadores da causa coletiva. E continuarão sonhando com a intervenção apaziguadora dos quartéis. Por quanto tempo trancarão entre os dentes seu riso cínico?
Dependerá da perseverança e da estratégia dos mobilizadores. Tomara que manifestações pacíficas legitimem o processo junto à maioria silenciosa. E que em vez de se destruir tristemente o patrimônio público, se siga o bom exemplo dos irmãos argentinos, tirando o sono e a paz de políticos e empresários chegados ao “malfeito”, com panelaços e pichações nas portas de suas residências particulares.