A violência não é culpa apenas das regras e dos aparatos que existem na sociedade para inibi-la e combatê-la. É uma semente que cresce sem parar mesmo sem cuidados especiais. A ela serve apenas um terreno qualquer.

Violência e segurança pública enchem de preocupação a maioria da população, que acredita ser dever do Estado enfrentá-la de mangas arregaçadas. E as conversas e cobranças se multiplicam a cada novo assalto, roubo ou assassinato. Pode-se achar que o Estado é o grande culpado, entretanto não é o único e talvez nem seja o maior. A violência é um monstro que tem muitos cúmplices e parceiros. Cada um de nós, se analisar com cuidado, encontrará sua culpa nesse cartório.

A violência é uma forma de pensar que se cultiva no quintal de casa, assistindo a filmes de extrema crueldade, de heróis mortíferos que matam centenas de seres humanos em nome do dever de defender a sociedade, a pátria, a família. Às vezes para vingar ofensas ou injustiças, mas sempre empregando a violência e cometendo barbaridades.

Dentro de casa, presenteiam crianças com brinquedos que reproduzem armas ou deixam esses brotos humanos assistindo por horas a espetáculos entupidos de conflitos, de usurpações. É natural que as crianças se moldem e se inspirem no que assistem.

Há pais que mentem perante os filhos e prestam seu exemplo ao usar a mentira como um meio normal de convivência social. Fumam, consomem bebidas alcoólicas e fazem bravatas na frente de suas crianças. Depois, tontos e perturbados, levantam-se para execrar a escalada da violência, a decadência das relações humanas, os assaltos nas esquinas, os estupros à porta de casa. Aos outros debitam toda a responsabilidade, e com isso os reformatórios não param de se encher de jovens, e as prisões de infelizes.

Se cada um começasse a assumir suas responsabilidades e despertasse desse morno torpor, a violência deixaria de prosperar com tanta facilidade e ousadia.