Diálogo e transparência. Não é possível conduzir uma cidade e tomar grandes decisões sem que haja uma articulação ampla, clara e eficiente. Ouvir especialistas, olhar no olho do cidadão, conversar com setores distintos e manter um canal de contato permanente com a população é governar com sabedoria. Falta isso em Belo Horizonte. Em uma semana, notou-se uma ameaça solta proferida pela prefeitura, com os dizeres: “se nada mudar, fecharemos a cidade novamente”. Na semana subsequente, a frase “chegamos ao limite” marcou os noticiários. O que é “nada mudar”? O que é “limite”? O belo-horizontino e os 20 milhões de mineiros merecem saber, afinal, estamos falando da capital do Estado.
Na primeira quinzena de dezembro, o boletim diário divulgado pela prefeitura registrava 741 leitos de UTI em potencial, que poderiam ser abertos caso fosse necessário. Entretanto, desde o dia 17 de dezembro, a gestão municipal, sem quaisquer esclarecimentos e como em um passe de mágica, retirou esse indicador. A notícia de que o comércio fechará a partir de 11 de janeiro reflete a política mais indesejável a meu ver: aquela que reproduz, diretamente, o autoritarismo. Comerciantes, varejistas, empresários, empreendedores e vereadores: sabe o que todos eles têm em comum? O fato de não terem sido procurados pelo prefeito. Não foram ouvidos, consultados e minimamente respeitados. Ao contrário, a escolha política interrompe um trajeto árduo de sobrevida do comércio e, pior, do sonho de milhares de negócios se recuperarem.
Nunca é tempo para errar, e menos ainda agora. Mas o caminho para o equívoco está evidenciado e só não vê quem não quer. Tenho obtido esse aprendizado em Brasília: nascemos com dois ouvidos e uma boca por uma razão: ouvir é fundamental. Vejam o exemplo brasileiro. Mais de 400 mil novos postos de trabalho formais foram criados no último mês, com a sintonia entre os setores de serviços, indústria e comércio. Estamos falando do quinto mês de saldo positivo e de um recorde da série histórica, iniciada em 1992. Não alcançamos um resultado deste nível à toa. É fruto de reuniões intermináveis entre os players de cada uma das áreas supracitadas e integração ministerial. Em Minas, a Prefeitura da terceira capital brasileira vai na contramão do desenvolvimento econômico.
Somente nos seis primeiros meses da pandemia, BH viu mais de sete mil empresas fecharem, com 25 mil trabalhadores perdendo seus respectivos empregos. Para se ter uma dimensão do problema, 72% do PIB da cidade se encontram no setor de comércio e serviços, o que corresponde a 88,4% da atividade econômica da capital e 83,5% dos empregos. Em 11 de agosto, acumulávamos quase 150 dias fechados, o que já fazia de Belo Horizonte a cidade com o maior fechamento do mundo. E fechar não é gerir. A gestão eficiente parte da premissa de que o objetivo é recuperar empregos, aquecer a economia, evitar que no transporte haja riscos constantes à vida das pessoas, com ônibus e mais ônibus permanentemente lotados. É fundamental e necessário apresentar um plano com um vasto repertório de soluções. Nada disso foi feito. Nenhum plano foi construído, e apenas uma monotemática e rasa solução acabou posta à mesa: fechar, fechar e fechar.
Convoco os mineiros à vigilância. É tempo de abrir os olhos e observar. As urnas não devem presentear aqueles que não interagem. A vida política não deve renovar cartas brancas a quem não possui, na essência, a vocação do diálogo e a habilidade de articular com margem ampla de envolvidos. O destino dos que não olham no olho e não sabem intercambiar ideias deve ser, no mínimo, um período sabático para rever os seus valores, as suas premissas e o seu modo de conduzir a atividade política. Em outras palavras mais claras: perder eleições são choques necessários a quem não luta o bom combate – que é um conceito basicamente antagônico ao autoritarismo. Eu acredito em um jeito de fazer política que valoriza a transparência. Eu respeito quem busca somar ideias e difundir soluções completas, eficazes e, sobretudo, produtivas. BH peca no modus operandi de fazer política, e não se pode errar tanto assim com vidas, empregos e sonhos, quando você chefia um poder Executivo. É tempo de mudar perspectivas e, por parte dos setores da economia e mesmo dos cidadãos, a hora é de lembrar que uma boa política exige o olhar atento, a cobrança firme e a pressão respeitosa, mas assertiva, dos gestores que protagonizam a vida pública.