Quem nunca se questionou por que o Brasil e os Estados Unidos (ambas antigas colônias) apresentaram, ao longo da história, resultados tão diferentes? Antes que eu te dê a resposta, você já deve ter a fórmula quase matemática na ponta da língua: fomos uma colônia de exploração.
Portugal roubou o que tínhamos. Queria nosso ouro e nossa madeira. Éramos apenas um apêndice. A famosa Ilha de Vera Cruz era o fio condutor que fortaleceria Portugal no continente europeu. Já os Estados Unidos, colônia de povoamento, ergueram suas primeiras colunas sob a égide de uma nação livre e próspera.
Para alguns, essa é uma das principais razões para que os EUA tenham o IDH de 0,915 e o Brasil, de 0,755 (8º e 75º no ranking mundial). Não me furto da certeza de que a largada na construção de um país guarda profunda relação com o desempenho econômico e social. Essa máxima tem o condão de influenciar, mas não de sentenciar o nosso sucesso. É inadmissível sermos escravos de um vitimismo sem fim. Precisamos virar a página.
Muitos brasileiros têm o péssimo hábito de enxergar nossa terra como o reduto da irresolução. E neste caminho, seguem convictos de que não há outra maneira de reparar tais danos, senão ampliando o tamanho do Estado. Como se essa instituição fosse a boa mãe que não tivemos em nosso nascedouro.
Sob essa visão de mundo, construímos um império assistencialista, venerado por muitos. No Brasil, temos um arcabouço de programas de transferência de renda, chefiado pelo Bolsa Família, cujo teto é de R$ 205 por família. Infelizmente, a medida não resolveu o problema da miséria no país.
Nesta pandemia, o Brasil descobriu um universo de pobreza que estava invisível. De acordo com o Ministério da Cidadania, 124 milhões de pessoas foram, de alguma forma, alcançadas pelo auxílio de R$ 600. O número ultrapassa a metade da população. Dos mais de 65 milhões de beneficiários diretos, apenas 19,2 milhões receberam o benefício via Bolsa Família.
Talvez a nossa história tenha uma responsabilidade subsidiária. Ela não responde primariamente pela miséria, mas é a responsável por nos fazer acreditar que o reparo às desigualdades está na transferência de renda.
R$ 250 podem resolver o problema da fome – fato que deve ser encarado com seriedade –, contudo, jamais serão a solução para o fim da miséria. Insistir nesta sistemática é reverberar a mentalidade da pequenez.
Os brasileiros que hoje se enquadram na pobreza merecem muito mais que um auxílio imediato. Eles merecem ascender socioeconomicamente. Isso fará nossa nação prosperar.
O governo federal está diante de uma oportunidade ímpar: ou repara apenas o imediato, ou direciona o olhar para futuro. Ou cultiva a dependência do Estado, ou cria um ambiente propício ao desenvolvimento. O mindset da distribuição de renda deve focar o reparo às desigualdades educacionais e o investimento massivo na geração de emprego. Esta é a via única do progresso.
A influência da colônia de exploração precisa ter um ponto final. Histórias de sucesso são marcadas pelo recomeço, e o Brasil tem tudo para reconstruir seus fundamentos a partir da dignidade da pessoa humana e da livre iniciativa.