Me perdi de tudo que guardei nos bolsos, na garganta, nas ondas que fiquei olhando sem pular e nos papeizinhos amassados de caderno com datas vencidas que tanto rabisco ao léu. Meu programa preferido tem sido sair de casa, errar endereços marcados, anotar textos na cabeça, encontrar percepções próximas que pareciam distantes e demorar para voltar. Como eu gosto de demorar para voltar, seja lá em qual lugar eu me proponha a estar de bem. Estou nessa de ficar quietinho, chorar pitangas sem derramar dramas, ensolarar o lado terno da vida, fazer simpatias e orações mesmo sem fé. Nada que resolva nada, só um exercício de pensar com energia fluida em coisas que podem dar certo etc. e tal.
Eu sei que é muito melhor pisar no chão duro sem perder a cabeça das nuvens; transar pelos poros e ser além do clichê de meter; morrer de amor em vez de sofrer vivendo pela divisão silábica da palavra “amor”. Que o mais importante é notar que vícios não são necessidades, hábitos não são irreparáveis, anos são, simplesmente, passados. E o tempo que inventamos, se reparar bem, escorre em uma contagem sob pressão para adiantar nossas escolhas ou erros, como preferir, e brincar com nossos acasos. Nunca para nos permitir viver mutações, sonhos. Por que não este agora e outro depois, logo mais, sem a urgência das autoafirmações?
Hoje eu fiquei olhando durante muito tempo essa mulher que vou levar a um altar de madeira e flor com vento no rosto; me tocando de como ela é linda de graça. E, sei lá, ela só estava enchendo um copo d’água, desses de requeijão, apoiada no filtro de barro de casa, sem precisar estar nua ou na ponta dos pés: nenhuma foto para cartaz de cinema, nenhuma cena de instaurar o caos no trânsito. Então, guarde isso com você, meu bem: como é bonito rotineiramente ter vontade de te pegar no colo, te levar a uma ilha, alugar uma solução, sabe? “Por que não pega logo, caramba?”, eu imagino você se questionando, ou apenas pensando que eu deveria sair do lugar de qualquer forma e parar de apenas olhar o mar. Espalhar a areia ou me arriscar à correnteza: uma escolha direta e sem rodeios. E é a lei que me propus a praticar a partir de agora: parar de tentar para definitivamente conseguir, mesmo tremendo diante de montanhas que vamos escalar.
Queria muito que aquela nossa vontade toda de se agarrar no meio do escuro, escorregões pelas pernas, silêncios desertos quebrados apenas pelos estalos dos lábios, desfiles entre superfícies de peles, declarações sinceras de esqueça-as-teorias-e-fique-comigo-agora se transportassem para a nossa vontade de ser o-instante-inteiro-que-é-mais-que-o-tempo. E só consigo pensar na ênfase do seu frio apertando meu corpo, a textura das suas mãos nos meus instintos nervosos, seus gestos imprevisíveis, uma sequência de declarações do tipo gosto-de-você-de-você-e-de-você completamente gratuitas – e precisas, diretas, muito além, necessárias. E tomo nota: beijar sua boca é como estender esse amor pelos cantos, pelos atrasos e pelas vontades mais sinceras de sonhar para valer a dois, delírios que rondam todo sentimento iluminado. Nada grave, nada sério, nada normal.
Por fim, por tudo, por nada, futuro, agora é com você. Deixa eu te cultivar na linha infinita do horizonte sem dever ou explicar nada para ninguém, como quem acorda cedo de manhã, naturalmente, sem perder a hora, apenas para regar os sonhos frescos com aquele otimismo que diz sutilmente “é isso aí” dentro do peito da gente. É como aquela certeza da Adélia Prado de que o “sonho não morre”. O máximo que pode acontecer com ele é se tornar real.
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