O governo dá como certa a aprovação da reforma da Previdência, em processo final de acabamento no Senado; faltam detalhes, e nisso a equipe do ministro Paulo Guedes trabalhou com habilidade, trocando passes para chegar ao gol. O projeto do governo tinha gordura pra queimar sem se sacrificar o todo do projeto. Agora virão as outras reformas para Bolsonaro fazer diferença. Apenas com a Previdência reformada é ilusão pensarmos que a economia reagirá, trazendo à cena, com urgência, os investimentos privados, os empregos e o crédito mais barato. Faltam a reforma administrativa, a tributária e, fechando o caixão, a reforma política. Sejam bem-vindas, porque sem elas continuaremos parados no mesmo lugar.
São essas as reformas que, juntas, poderão reescrever uma nova história do Brasil, para virarmos a página desse quadro de privilégios, de criminosa concentração de renda, de espoliação das camadas mais pobres pelo sistema financeiro, que tudo faz porque tudo pode. Muito já se defendeu como nossas as empresas estatais, e, agora, em paralelo ao esforço das reformas, cresce a onda de privatização.
Além das nove grandes estatais, puxadas pela Eletrobras, o governo vai anunciar a venda de participações do BNDES em pequenas empresas, para colocar dinheiro no citado banco de fomento, que, por sua vez, deve mais de R$ 200 bilhões ao Tesouro. É o que ainda falta para devolver do aporte de R$ 500 bilhões, feito pelo Tesouro em etapas, no BNDES, de 2009 a 2014, por meio do chamado Programa de Sustentação de Investimentos (PSI).
Tal iniciativa concedia empréstimos aos amigos do governo, com juros de 3% ao ano, quando a inflação estava em 6% no mesmo período. Empréstimos pulverizados, por exemplo, para a farra dos jatinhos, inclusive, o que muito contribuiu para que os brasileiros, mais tarde e até os nossos dias, viessem a amargar o atual quadro de miséria e de falta de alternativas da nossa economia. Por que ninguém denunciou isso? É um rombo estratosférico do qual ninguém falou, e ninguém investigou que critérios foram adotados para que tal sacanagem se consumasse.
São fatos assim que nos animam a bater palmas para a iniciativa de privatização; de tudo que puder ser privatizado e rapidamente, para ver se conseguimos salvar alguma coisa, empregando tais recursos em investimentos públicos que possam beneficiar toda a sociedade. O Estado brasileiro é, no mínimo, um péssimo gestor, porque muitas vezes ainda se abrem as portas da corrupção, do empreguismo, da ineficiência e do criminoso favorecimento de grupos amigos.
“Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”, disse jocosamente o saudoso Stanislaw Ponte Preta.
Para consertar, é inadiável diminuir a mão do Estado.