Depois de mais um round, tudo indica que Sergio Moro venceu por pontos e segue administrando sua vantagem dentro do governo. Ao confrontá-lo, ao contrário do que pensa, Bolsonaro pode estar criando seu mais importante adversário na tentativa de reeleição que ainda está por vir.
Cada vez mais presidenciável, Sergio Moro passou a entender melhor suas opções e caminhos dentro e fora da esfera bolsonarista. Sendo mais popular que o presidente, empresta sua reputação a Bolsonaro, que ainda não percebeu a importância desta fidúcia para a estabilidade de seu governo diante da opinião pública. Se ao ocupar a pasta da Justiça, Moro vislumbrava apenas uma vaga no Supremo Tribunal Federal, as diversas tentativas em rifar sua autoridade podem estar fazendo com que passe a pensar no Planalto como uma possibilidade real em seu futuro.
Neste episódio, ao sentir-se intimidado pela popularidade do ministro, Bolsonaro mais uma vez preferiu partir para o ataque. Os diferentes embaraços provocados pelo presidente fizeram com que a relação trincasse, sem chance de restabelecimento real. Os afagos, tanto ao sugerir a posição de vice em uma chapa presidencial, quanto em discursos, não apagam as diversas tentativas em minar a autoridade e reputação do ministro. Uma inconstância presidencial que pode colocar em xeque os planos bolsonaristas de reeleição.
Isto porque Sergio Moro, na medida que mantém sua reputação e torna-se atacado pelo núcleo palaciano, passa a figurar como alternativa real de poder no plano presidencial. O Podemos, partido que abraçou a causa lavajatista, cresce exponencialmente. Já tornou-se uma força incontestável no Senado e conta com uma eventual candidatura de Moro ao Planalto para impulsionar sua bancada na Câmara.
Logo, já existe uma agenda e um partido e Bolsonaro trabalha incansavelmente para criar o candidato que pode tirar suas chances reais de seguir no comando do país. Ao honrar sua palavra e compromissos assumidos no início do governo, o presidente poderia ter tornado Moro seu principal trunfo. Ao encaminhá-lo para uma vaga no STF, asfaltaria seu caminho eleitoral entre os lavajatistas.
Fato é que Bolsonaro acredita possuir um faro político apurado, o mesmo que o levou até a cadeira presidencial. Entretanto, ao acreditar nisso, rejeita a tese de que sua escolha foi o simples resultado de um processo de desgaste institucional cíclico, que ao levar ao poder nomes inexperientes, como Collor e Jânio, também foi implacável na derrocada de ambos. Bolsonaro precisa de muita cautela para não ser banido do poder pela mesma maldição.
Ao rifar Moro, o presidente pode colocar em xeque a sua própria presidência. Isto não significa que seja refém do ministro, mas o inverter esta lógica e tentar impor sua autoridade, pode acabar criando um perigoso adversário.
Ao perder a agenda anticorrupção, Bolsonaro perde a onda que o levou ao Planalto, derruba um dos pilares de seu governo e torna-se cada vez mais vulnerável. A prudência política recomenda colocar as barbas de molho.