Bolsonaro hoje é um político em busca de um partido. É notório que o homem jamais gostou de disciplina, ordem ou mesmo liturgia partidária. Foi quase uma dezena de siglas ao longo de sua vida política, pontuada por brigas, desacertos e rompimentos. Agora, na Presidência, está diante de uma realidade que se impõe. Enfrentará uma campanha onde precisa de tempo de televisão e também recursos do Fundo Eleitoral.

A eleição de 2022 será muito diferente daquela de 2018, que foi um divisor de águas ou, como costumo dizer, o ápice de uma troca de ciclo político que começa a se encontrar depois das turbulências de anos passados. Diante disso, Bolsonaro sabe que sua imagem de outsider de nada vale no próximo ciclo, que deve ser pontuado pela recuperação da pandemia e pelo peso da economia.

Diante disso, a presença de Bolsonaro em um partido parrudo, de peso eleitoral, pode fazer diferença no próximo ciclo, na mesma medida em que um nanico pode travar seus planos eleitorais. Não será possível repetir a aventura bolsonarista a bordo do PSL, que elegeu mais de 50 parlamentares e chegou até a Presidência da República. Para empinar seu projeto de reeleição, precisa de uma agremiação com capilaridade nacional, penetração política e líderes espalhados pelo país.

O grande problema é que o perfil mercurial de Bolsonaro não se encaixa em qualquer lugar com facilidade. Seu desejo é infiltrar-se na máquina, tomando o controle de um partido. Falta, entretanto, combinar com os russos, como já ensinou Garrincha. Nenhum cacique está disposto a abrir seu poder para dividi-lo, mesmo que circunstancialmente, com um homem de estilo bélico, autoritário e traiçoeiro. Diante de sua personalidade, Bolsonaro se tornou um hóspede incômodo para qualquer agremiação.

Some-se isso ao fato de que Bolsonaro irá perder a eleição – o que afirmo com a mesma convicção que tinha sobre sua vitória em 2018. Ele será apenas um instrumento para aumentar a bancada e a fatia dos fundos Partidário e Eleitoral. Além disso, não pode atrapalhar os planos desta agremiação no tabuleiro político futuro.

Fato é que, com números tímidos, mesmo que na condução do Planalto, Bolsonaro não empolga – a não ser dentro de sua bolha – e enxerga um Lula com ampla vantagem, na mesma medida que pode ser atropelado por Moro, que tem espaço para crescer. Isto significa que estamos diante de um cenário que ainda se acomoda e pode apresentar surpresas fora do espectro já conhecido.

Por não ser um político de projeto, ideias ou grupo, Bolsonaro é encarado como um erro circunstancial, um elemento a ser descartado do tabuleiro, um incômodo passageiro que em breve será esquecido pela história. Esta é a visão dos partidos que hoje pajeiam aquele que ainda tem a caneta, mas que não hesitarão em trocá-lo por alguém de melhor trato no diálogo e acordos.
Independentemente do caminho que tome, Bolsonaro será um hóspede indesejado, porém ocasional e temporário. Onde quer que esteja, precisará ter pouca vez e voz, sob pena de causar tumulto e dissenso e abandonar aliados e o barco no meio da travessia – sua especialidade na política.