MICHELE BORGES DA COSTA

Todo mundo merece ficar de bubuia

Redação O Tempo


Publicado em 09 de março de 2018 | 04:00
 
 
 
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Criei uma regra nova: todo brasileiro precisa guardar pelo menos um pouquinho de vida para conhecer a Amazônia, do jeito que quiser ou puder, incluindo todos os seus clichês. A imaginação, a expectativa, o conhecimento que a gente imagina que colecionou através das fotos, dos filmes, dos livros, dos relatos dos outros não dão conta do que é estar com os pés na floresta ou com o corpo inundado pelo rio Negro. Respirar o ar mais ao norte amplia muito a noção míope que a gente tem do que é o Brasil.

Eu sei, tem um monte de motivos para escolher outras coordenadas geográficas quando se tem a sorte de uns dias de folga ou um dinheirinho que sobra, mas não é da minha criação fabricar uma regra assim sem apresentar bons argumentos.

Se você disser que é longe, vai ficar surpreso em saber que meu voo para Manaus durou menos de cinco horas, contando com os 40 minutos de conexão em Campinas. Se você alegar que é caro, vai ficar feliz em descobrir que tem passagem de ida e volta custando R$ 238 para viagens em maio. É quente? É. É úmido? É. É incrível? Sem dúvida.

Vamos aos motivos:

1. O barulho das gotas gordas e pesadas nas árvores, quando você é alcançado pela chuva bem no meio de uma caminhada na mata. O som da água escorrendo pelas folhas, desabando até formar um rio onde antes era uma trilha é a revelação de que as coisas são o que são, sem qualquer complicação.

2. Do alto de uma torre que você só conquista depois de enfrentar 242 degraus, enxergar tantos tons de verde que seria tolice contar. Apanhar o horizonte e entender ser ele mesmo o tempo e o espaço.

3. Aprender que ficar de bubuia em plena segunda-feira é a mais bonita das revoluções. Nada ter mais importância ou significado do que passar uma tarde boiando no rio Negro.

4. Encontrar uma gente consciente de sua história, que se recusa a fingir, que transforma em recado toda narrativa de opressão. Abraços, caronas e conversas boas serem as mais bonitas lembrancinhas para encher a mala.

5. Comer o que você desconhece, aprender a fazer o que só se sabe já pronto, dar novos nomes ao que já é íntimo, trocar o firme pela água. Fazer coisas pela primeira vez até se fartar.

Deve ser o suficiente.

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