As manifestações previstas para a temporada da Copa do Mundo não seguem a lógica das realizadas em junho de 2013. Muitas reivindicações não estão mais presentes. Um exemplo é a proposta do passe livre, que já não aglutina tanto como no ano passado. Outras agendas, como o projeto da “cura gay” e a PEC 37, nem estão mais na pauta.
Assim, os que estão se mobilizando são os que questionam os gastos com a Copa do Mundo, os arruaceiros ligados a grupos, como black blocs, os militantes de sempre (sem-teto) e sindicalistas. Na semana passada, eles não conseguiram atrair nem interessar o cidadão comum, e o número de pessoas nos protestos foi relativamente baixo.
Em São Paulo, considerando todos os participantes, não se chegou a 10 mil pessoas. Levando em conta que pelo menos 6.000 eram ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), a adesão espontânea foi pequena.
No Rio de Janeiro, os protestos foram dominados por grevistas e sindicalistas, com poucos participantes do movimento contra a Copa. Sendo assim, os próximos protestos contra o evento esportivo, para ganhar corpo, devem ocorrer turbinados por reivindicações de grevistas e sindicalistas.
Setores oposicionistas da classe AB, que antes viam nas manifestações uma forma de fragilizar o governo petista, refluíram temendo a violência e o confronto com arruaceiros, militantes radicais e forças policiais.
Agora, os atos estão sendo organizados pelo MTST e pela Articulação Nacional dos Comitês da Copa. Sindicatos de servidores públicos que negociam reajustes salariais também estão aproveitando o momento para que suas reivindicações sejam atendidas.
O tema “Copa do Mundo”, por si só, não deve ser motivo de protestos em larga escala nas próximas semanas. Até mesmo pelo fato de a mídia eletrônica já estar tratando o assunto com cautela e sem o romantismo do ano passado, quando muitos jornalistas viram nas mobilizações uma espécie de “primavera brasileira”.
Porém, conforme reconheceu o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, não dá para fazer projeções seguras. A adesão aos protestos marcados para as próximas semanas e durante a Copa dependerá de alguns fatores, como a reação dos governos federal e estadual, o tipo de cobertura dado pela imprensa e a atuação da polícia, entre outros.
Ainda que o nível de adesão seja menor e talvez menos espontâneo do que em 2013, a realização dos protestos deve trazer desgaste para os governos de modo geral, em especial para a presidente da República e os governadores. Eles são os alvos preferenciais dessas manifestações e serão eles que terão que apresentar soluções para as demandas colocadas.
Assim, a ocorrência de novos protestos tende a trazer mais desgastes para a presidente e os governadores, sobretudo aqueles que buscam a reeleição. No entanto, diante da insatisfação existente com o sistema político de modo geral, por enquanto nenhuma força opositora tem sido capaz de capitalizar esse sentimento de insatisfação que brota das ruas. Prova disso é o elevado percentual de eleitores que declaram estar indecisos e desejam votar em branco ou nulo nas eleições de outubro deste ano. A soma desses percentuais, segundo as últimas pesquisas nacionais e regionais, varia de 30% a 40%, um índice extremamente elevado, o que vai exigir um esforço adicional do sistema político para conquistar esse eleitor sob risco de haver uma abstenção recorde em outubro.