OBSERVATÓRIO DAS ELEIÇÕES 2020 NOS EUA

A identificação de um inimigo externo

Pacotes econômicos e discurso duro podem favorecer Trump


Publicado em 22 de abril de 2020 | 03:00
 
 
 
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A rápida expansão do coronavírus nos Estados Unidos tem demonstrado, de forma cada vez mais clara, os seus impactos sobre os temas políticos e econômicos do país. Em um período de preparação para as eleições que definirão o próximo presidente norte-americano, o país se depara com mais de 40 mil mortes ocasionadas pela doença.

No contexto de distanciamento social, o partido Democrata tem buscado apresentar aos norte-americanos um movimento de concertação em torno do nome do ex-vice-presidente Joe Biden. Com a desistência de Bernie Sanders no processo de primárias, o esforço do partido está centrado em intensificar o discurso crítico ao atual presidente.

A utilização de ferramentas virtuais de comunicação tornou-se essencial frente ao desafio de alcançar os diferentes públicos anteriormente divididos entre os pré-candidatos democratas. Biden já anuncia o seu interesse em compor uma chapa mista, que conte com um nome feminino como aspirante ao cargo de vice-presidente. A liderança mais proeminente do partido, o ex-presidente Barack Obama, já foi escalado para a linha de frente da batalha que será travada em alguns meses.

O atual incumbente e pré-candidato republicano também tem se movimentado no jogo político. No âmbito doméstico o governo norte-americano defende a necessária retomada da atividade econômica em todo o território nacional, o que flexibilizaria o isolamento social praticado por orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A medida é controversa por não haver um consenso que apresente caminhos seguros a serem seguidos no sentido de equilibrar economia e saúde pública.

Um primeiro pacote econômico já foi elaborado e aplicado pelo presidente Trump, e uma segunda rodada de investimentos está sendo planejada por sua equipe. Setores básicos da economia nacional, inclusive ligados à produção de insumos médicos, têm recebido especial atenção do Poder Executivo.

Tratando-se do posicionamento externo, nos últimos dias Trump assumiu uma postura crítica às diretrizes internacionais de combate ao coronavírus e suspendeu, ainda que provisoriamente, os repasses financeiros norte-americanos à OMS.

É importante ressaltar o enrijecimento do discurso oficial da Casa Branca em relação ao papel exercido pela China no quadro global vivenciado nos últimos meses. De acordo com o presidente Trump, a população chinesa foi o primeiro campo de infecção viral do coronavírus, cabendo às suas autoridades sanitárias um esforço maior no sentido de diminuir a amplitude dos seus efeitos em outros países.

A busca pela identificação de um “inimigo externo” não é inédita na política dos Estados Unidos e não é uma estratégia exclusiva do presidente Trump. É importante esclarecer que a identificação de uma ameaça não significa que ela realmente não exista. Trump tem utilizado esse contexto de crise para ampliar os efeitos de suas decisões sobre o pleito eleitoral que se avizinha. Um processo semelhante pôde ser observado no salto positivo na popularidade do ex-presidente George W. Bush diante da apresentação da ameaça terrorista, fator decisivo em sua candidatura de sucesso à reeleição.

O caráter midiático adotado na primeira campanha de Trump à Casa Branca tem sido mantido e aperfeiçoado na atualidade, ampliando de forma clara a sua popularidade. Com base na proteção da economia e na identificação de uma ameaça externa, no caso a Covid-19, a tentativa do presidente é reorganizar a opinião pública e estabelecer um contexto que muito provavelmente favorecerá a sua reeleição.

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