Observatório das Américas

O que é ruim para os EUA também é para o Brasil: inflação elevada

Endividamento público e problemas na capacidade de oferta

Por Adriano Cerqueira
Publicado em 13 de outubro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Atualmente, a inflação é um problema sério no Brasil, com projeções de que deva alcançar 9% neste ano, mas esse fenômeno não é isolado, pois em todo o mundo a alta da inflação está acontecendo, especialmente nos EUA. Segundo projeções do mercado, a inflação dos EUA deverá passar dos 5% e está sendo percebida como um dos maiores problemas a serem enfrentados pelo governo norte-americano na economia.

As causas para o aumento da inflação são, principalmente, de origem fiscal e produtiva. O grande endividamento público nos EUA já era considerável no último ano do governo Trump (por causa da pandemia) e foi agravado no governo Biden, também por conta dos estímulos econômicos voltados para a retomada da economia, após a cadeia de produção e de comércio ter sido severamente afetada pelas medidas de restrição de circulação de pessoas, no chamado “lockdown”. O forte endividamento público é, hoje, um grande problema político nos EUA, pois em julho o teto da dívida foi superado e está sendo discutido no Congresso dos EUA o aumento do teto para US$ 28,4 trilhões, para que o país não seja forçado a dar um calote, pois o governo não tem autorização legal para honrar pagamentos acima do atual limite.

Além do problema fiscal, a cadeia produtiva mundial foi muito prejudicada pelas medidas de enfrentamento da pandemia, e a retomada da produção, à medida que essas medidas estão sendo relaxadas em todo mundo, colocou um forte problema de capacidade de oferta produtiva para suprir a pressão das demandas em escala global. O descompasso entre a alta demanda e a baixa oferta faz a alta da inflação ser um problema global, como está ocorrendo no Brasil, mas os EUA, por serem um país com forte dependência dessa cadeia, estão sofrendo muito com a elevação média dos preços nas áreas de produção e consumo.

Ou seja, se, por um lado, os planos de recuperação da economia funcionaram, reaquecendo a economia, por outro lado, o desequilíbrio fiscal já está em um patamar tão elevado que coloca em risco a continuidade desses gastos, justamente uma das principais promessas do debilitado governo Joe Biden. E a alta da inflação está corroendo a saúde financeira das famílias de baixa renda dos EUA, justamente as que seriam, de acordo com o governo, as mais beneficiadas pelos planos de resgate da economia de Biden.

Consequentemente, o desalento da população com a economia aumentou e está expresso nos dados de setembro do índice de confiança do consumidor, medido pela Universidade de Michigan. Naquele mês, os índices continuaram no patamar dos 70 pontos registrados em agosto, revelando o forte pessimismo do norte-americano com a sua economia.

Outro indicador relevante é a taxa de aprovação e de desaprovação do governo Biden, medido no tracking (pesquisas diárias) do instituto Rasmussen. Em setembro, a média da taxa de aprovação foi 44%, enquanto a média da taxa de desaprovação foi 55%. E os primeiros dias de outubro não alteraram essa avaliação: no dia 7 de outubro, a taxa de aprovação foi 43%, e a de desaprovação foi 55%.

Os problemas econômicos do governo Biden estão aumentando o sentimento de frustração da população com as promessas do governante recém-empossado. Em pesquisa de 5 de outubro, o instituto Rasmussen apurou que 64% dos americanos consideram que o país está, hoje, mais dividido que na época da eleição presidencial, contra apenas 11% que consideram que o país está mais unido agora. Esse dado é indicativo que devem estar sendo muito “esquentadas” as conversas entre familiares, amigos e conhecidos nos EUA, com a polarização sendo expressa em discussões, brigas e acusações. Esse clima de beligerância já está aparecendo nas redes sociais, com vídeos publicados nos quais, em eventos esportivos com muita gente aglomerada, aparecem palavras de ordem xingando o presidente Biden.

Em tempos de inflação alta, a paciência do norte-americano está baixa.

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