Observatório das Américas

Trump é o futuro dos Republicanos?

Ex-presidente demonstra ter liderança entre conservadores

Por Lucas Rodrigues Azambuja
Publicado em 03 de março de 2021 | 03:00
 
 
 
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No dia 28 de fevereiro, o ex-presidente Donald Trump fez um discurso de mais de 60 minutos no CPAC. A sua fala e alguns fatos relacionados ao evento trazem importantes pistas sobre o futuro político de Trump e do Partido Republicano, após a conturbada eleição que deu a vitória para o candidato democrata, Joe Biden.

O CPAC é a maior conferência conservadora dos EUA, reunindo praticamente todas as correntes do Partido Republicano e outros movimentos e organizações da direita norte-americana e internacional. O evento ocorre anualmente desde 1974 e, na sua edição inaugural, contou com Ronald Reagan como principal conferencista.

Reagan, entre as décadas de 70 e 80, mudou a cara do Partido Republicano da época, e, como Trump, era considerado um outsider advindo do showbusiness. Os paralelos não param por aí: Reagan ficou conhecido por possuir uma retórica mais agressiva com a esquerda e a mídia, utilizando-se também de um humor ácido e provocador, e uma postura mais dura com relação ao então principal adversário internacional dos Estados Unidos, a União Soviética. Reagan, entre 1974 e 1984, foi o político mais popular entre os participantes do CPAC. Portanto, esse paralelo é útil para entender como o que ocorre no CPAC é um importante indicador sobre o que esperar politicamente de Trump e o Partido Republicano daqui em diante.

Na maioria das edições, o CPAC convida os seus participantes a responder um questionário. Entre as perguntas está uma sobre qual político republicano a pessoa deseja como próximo candidato à presidência dos EUA. Até 2019, Reagan havia obtido o maior percentual (77,2%) de preferência entre os participantes, quando foi ultrapassado por Trump (82%). Cabe destacar que, nas edições anteriores (2013 a 2016), quando houve essa pesquisa, Trump não aparecia nem mesmo em segundo lugar. Isso indica que o mandato de Trump consolidou sua popularidade e liderança entre os eleitores republicanos. Nesta edição de 2021, Trump obteve o primeiro lugar das preferências, com 55%, e obteve aprovação de 97% dos participantes da pesquisa. Segundo o jornal “Washington Times”, o responsável pela pesquisa deste ano, Jim McLaughlin, declarou: “Trump é literalmente a figura mais popular que já tivemos no movimento conservador”.

Além disso, figuras tradicionais do Partido Republicano que se opõem ao ex-presidente não compareceram ao CPAC, pois, segundo informações que circularam na internet, eles não seriam bem recepcionados pelo público. Isso parece ser verdade, considerando que os demais políticos republicanos que compareceram são aqueles que têm se mostrado aliados a Trump (por exemplo, Ted Cruz).

Portanto, ao que tudo indica, Trump possui a liderança popular do movimento conservador norte-americano e do Partido Republicano. Em seu discurso, ele deixou claro que vai trabalhar nos próximos anos para exercer essa liderança e mudar o partido a seu favor. Nesse sentido, ele qualificou como fake news os boatos que diziam que ele iria formar um novo partido e declarou que vai trabalhar para buscar “novas e inteligentes lideranças” republicanas para disputarem eleições. Enfim, Trump quer se tornar o líder do partido e reduzir ou acabar com a influência dos políticos republicanos mais moderados na oposição aos democratas e à China.

O grande teste para verificar se Trump terá ou não sucesso será em novembro de 2022, quando acontecem as eleições do meio de mandato para a Câmara e o Senado. Se os candidatos apoiados por Trump forem a maioria dos eleitos do Partido Republicano e se os republicanos retomarem a maioria na Câmara, então, será pouco provável que Trump não volte a ser candidato à Presidência em 2024 – hipótese essa que ele deixou em aberta no seu discurso no CPAC. De qualquer modo, Trump está longe de estar morto politicamente e vai exercer grande influência na pauta de oposição ao governo Biden nos próximos anos

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