Open Mind Brazil

Inteligência artificial: nem bruxaria, nem tábua de salvação

Entendimento e uso das novas tecnologias digitais

Por Arthur Lavieri
Publicado em 30 de agosto de 2023 | 07:40
 
 
 
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Nesses últimos tempos temos sido bombardeados com informações, propagandas, palestras, ofertas de consultoria, casos de sucesso (difícil alguma empresa divulgar um caso de insucesso), artigos – opa! – que nos levam a acreditar que o uso de Inteligência Artificial (IA) se tornou a nova grande onda dos negócios. A ansiedade de investidores e executivos só cresce, reuniões de conselho tentam abordar o assunto de alguma forma, investidores colocam pressão nas organizações para “fazerem algo”.

Como executivo há muitos anos, tenho passado por todas essas fases e ansiedades. Sendo esse tema algo que quase remete à bruxaria (pelo menos para nós, leigos), decidi comprar livros sobre o tema, assistir a palestras, fazer cursos e recentemente participei de um bem mais profundo de uma das maiores universidades dos Estados Unidos. E tenho intensificado os debates nas empresas em que sou executivo ou conselheiro.

Não estou mais tranquilo. O tema é relevante e desafiador. Mas não creio que mereça os ares de desespero que percebo nas conversas com alguns colegas. Inteligência artificial, conceitualmente, nasceu como a forma de organizar e programar sistemas eletrônicos (computadores) e sensores para agir e tomar decisões como seres humanos. 

Mas, na verdade, queremos tecnologias capazes de identificar e processar informações de forma “muito melhor” do que os seres humanos. Tomar decisões é um desafio maior ainda. A corrida já começou, e o que mais importa é começar a participar. Mas, por onde?

Pelos dados! É impressionante a quantidade de dados que nossas atividades (não importa o tamanho da empresa) geram. Pense no número de notas fiscais, tipos de produtos por cliente e por região, margens de serviços por segmento econômico, por época do ano etc. De acordo com a americana Datamonitor, uma empresa média gera de 100 MB a 500 MB de dados por segundo (equivale a quase tudo que cabe num celular de última geração, só que por segundo). Sua empresa coleta, conhece, filtra e armazena esses dados?

O próximo passo é perguntar qual é o objetivo de um projeto de inteligência. Qual é a dor que queremos resolver? O cliente que queremos melhor atender? A receita a melhorar? O custo a reduzir? É impressionante, mas apenas 8% dos diretores das empresas brasileiras conseguiram responder essa pergunta em 2022. Naquele mesmo ano, 83% dos projetos realizados nas 500 maiores empresas americanas foram cancelados por não chegar a resultados convincentes. Aprendi que tudo em inteligência artificial começa e termina com o “por quê?”.

E aí, sim, vamos começar a pensar nas ferramentas que utilizaremos. Não se deixe assustar pelos anglicanismos: “robotic process automation”, “machine learning”, “descentralizes statistics”, “data normalization” etc. Em resumo, são modelos e ferramentas, muitas delas vendidas de forma padronizada, para aplicações que buscam entender dados e transformá-los em informações que permitam tomadas de decisão mais rápidas, inteligentes e menos custosas. 

Já estamos vivendo com isso há anos, e nem percebemos! Já recebeu aviso de fraude de cartão de crédito (certa ou errada)? E sugestões de compras pelos grandes sites de varejo (incluindo aquelas que você não pediu)? Avisos da rede de relacionamento com propagandas dirigidas? Identificação de fotos no seu aplicativo de telefone? Tudo isso é parte desta grande plataforma transformacional chamada inteligência artificial.

Então, não se assuste. Ela já está aqui entre nós e não é bruxaria. Mas também não será a tábua de salvação milagrosa da sua empresa, pois atrás dela tem que existir gente boa, trabalho duro e muito planejamento.

Arthur Lavieri é diretor-presidente da Tecnogera, conselheiro do Grupo Unitá e membro da Open Mind Brazil

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