Eu tinha apenas 15 anos, quando fui pela primeira vez a uma cartomante. Fui levada por uma tia que já tinha esse “vício” há vários anos. É exatamente como o cigarro, a bebida ou qualquer outro tipo de droga... A pessoa experimenta por curiosidade, por ter ouvido falar, gosta do efeito, repete a dose e, quando percebe, já está completamente viciada. Aconteceu assim comigo também.
Após essa cartomante da tia, passei a descobrir várias outras, em várias partes da cidade. Não podia escutar ninguém contar de alguma que eu já anotava o telefone e me apressava em marcar a consulta. Eu precisava achar uma que acertasse o meu futuro. Ansiosa desde cedo, eu não queria esperar para ver onde a minha vida ia dar, tudo o que eu queria era poder ler — como naquelas revistas que antecipam os capítulos das novelas — o que o destino me reservava.
E assim, fui pulando de cartomante em cartomante, que sempre diziam que os meus amores dariam certo (e eles nunca davam), que eu iria passar de ano (e eu fui reprovada), que eu me casaria aos 21 anos (e até hoje nada do marido)...
Então eu me cansei de gastar dinheiro para ouvir mentiras e resolvi entender o tal mecanismo divinatório. Comprei um baralho de tarô, um livro de instruções, mergulhei no mundo dos arcanos maiores e menores e só sosseguei quando entendi e decorei o significado de cada uma daquelas cartas. Cobaias para os meus estudos não faltaram. A novidade de que eu sabia “ler o futuro” foi se espalhando e não se passava um só dia sem que eu tivesse que fazer previsões para pelo menos três amigas.
O problema é que começou a dar certo. Ao contrário daquelas cartomantes que afirmavam fatos, marcavam datas e falavam nomes, eu apenas dizia para qual direção o tarô apontava e orientava a pessoa a seguir por aquele caminho. Até que resolvi testar com o meu pai e não gostei do que vi. Pedi apenas para ele tomar cuidado e guardei a preocupação para mim. Mas não adiantou... Dois dias depois a “profecia” foi concretizada: os meus pais se separaram. Exatamente como eu havia previsto.
Depois disso, resolvi guardar o tarô bem escondido. Não queria mais usar aquele “imã de infortúnios”, como se ele tivesse sido o culpado pelo ocorrido e não apenas o mensageiro. As cartomantes também foram esquecidas. E foi então que percebi que, ao parar de me preocupar se o dia seguinte me traria por bons ou maus momentos, parei de sofrer por antecipação e passei a ter mais surpresas.
Até que alguns anos atrás, conversando com uma amiga, ela me contou casualmente que havia conhecido uma ótima cartomante. Ela acertava o passado, o presente e fazia ótimas previsões para o futuro. A única reclamação era que a tal dona interrompia as adivinhações para dar mamadeira para o filho... E foi exatamente aí que percebi que aquela devia ser boa. Para captar e falar sobre a vida de outra pessoa, através de cartas, é preciso ter muita sensibilidade. E nada mais sensível do que uma mãe zelosa.
Não resisti. Com mil expectativas, marquei uma consulta. No começo, fiquei meio receosa. A experiência me ensinou a não ir respondendo às questões das cartomantes de forma que elas possam ir “sacando” a minha vida. Mas essa era mesmo diferente. De cara, falou tudo o que estava se passando comigo. Depois, disse tudo o que eu queria escutar. Em seguida, deixou que eu fizesse perguntas e ainda finalizou me receitando uns “banhos de ervas”, para limpar a minha aura. O mais impressionante é que três dias depois, duas previsões dela se concretizaram.
O que terá acontecido com as cartomantes? Será que finalmente dei sorte com uma? Será que como em qualquer profissão, elas agora estão tendo que estudar mais, fazer especialização, mestrado e doutorado, para ganhar da concorrência? Será que era eu que estava mais aberta no dia e as cartas captaram mesmo meu destino?
Não sei. Pode ter sido sorte. Coincidência. Transmissão de pensamento. Na verdade, isso não importa. O que interessa é que ela fez adivinhações tão sensatas que cheguei a ficar com medo de que aquele meu antigo vício voltasse. Mas ainda bem que isso não aconteceu. Assim como as cartomantes, eu também mudei. Com os anos, aprendi a ser mais paciente, a ter menos expectativas e a controlar a ansiedade. Vi que a graça de viver está exatamente em não saber o que vai acontecer. E, principalmente, descobri que cuidar do nosso presente é a melhor receita para viver plenamente. E que só assim podemos caminhar em direção a um futuro feliz.