As operadoras associadas à Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) faturaram no ano passado cerca de R$ 4 bilhões, queda de 66,78% em relação a 2019, quando as empresas registraram R$ 15,1 bilhões em vendas. As viagens domésticas representaram 77% do total, ou seja, R$ 3,09 bilhões. Esse são alguns dos resultados divulgados nesta terça-feira do balanço de 2020 do Anuário Braztoa, publicação que comemora dez anos. Para o presidente da entidade, Roberto Nedelciu, os números estão longe do ideal, mas surpreenderam porque mostram que existe uma demanda reprimida.
Segundo dados da Organização Mundial do Turismo, 2019 fechou com 1,5 bilhão de viagens no mundo. As chegadas internacionais em 2020 – também previstas para 1,5 bilhão – não seguiram a tendência de 2019 e não ultrapassaram os 348 milhões de passageiros. Segundo o Anuário Braztoa, o mercado de viagens internacionais – segmento que enfrentou desafios, como fechamento de fronteiras, diminuição da oferta aérea e aumento de 30,69% na variação cambial – teve uma redução de 74%, com faturamento de R$ 909 milhões.
VIAGENS DOMÉSTICAS
"No Brasil, os destinos mais procurados foram as capitais Salvador (BA), Maceió (AL), Natal (RN), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP)"
Nas Américas, os números registrados foram menores do que o mundial – queda de 69% e receitas de US$ 1,1 bilhão. Para Rayane Ruas, da Up Soluções, empresa responsável pela apuração dos dados do Anuário Braztoa, o Brasil ainda se saiu melhor do que o resto do mundo, registrando queda de 75% contra 89% da Ásia, por exemplo. Houve uma redução de 1,5 milhão de passageiros oriundos do exterior. Entre abril e maio, a demanda de voos caiu 90% e, entre abril e junho, as reservas hoteleiras tiveram uma queda de 80%.
No contexto de pandemia, as viagens domésticas representaram 77% do faturamento das operadoras da Braztoa, ou seja R$ 3,09 bilhões, uma redução de 65,61% em relação a 2019, com 3,3 milhões de passageiros embarcados e tíquete médio de R$ 978, 87, uma redução de 35,6% em relação ao ano anterior. Os destinos mais procurados foram as capitais Salvador (BA), Maceió (AL), Natal (RN), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).
Segundo Roberto Nedelciu, impossibilitado de trabalhar com os destinos internacionais, por conta do fechamento das fronteiras e a redução da malha aérea, as operadoras da Braztoa readaptaram seus negócios rapidamente para o mercado doméstico. Por região, o Nordeste continuou a ser a queridinho dos brasileiros, com 69,9% da preferência dos viajantes, seguido das regiões Sul (13,6%), Sudeste (12,4%), Centro-Oeste (3%) e Norte (1,1%).
VIAGENS INTERNACIONAIS
"No internacional, os destaques foram Cancún, no México, que permaneceu com as fronteiras abertas e com poucas restrições à entrada de turistas, e as ilhas Maldivas, por conta das promoções e da flexibilidade na remarcação"
O volume de passageiros transportados teve queda de 49,9% em comparação a 2019, embarcando 3,3 milhões de pessoas. Do total de turistas embarcados, mais de 3,16 milhões foram para destinos no Brasil (96%). A porcentagem de turistas para destinos internacionais foi de 4%, ou seja, 143 mil brasileiros viajaram para fora do país em 2020, uma redução de 91% em relação a 2019. O faturamento também caiu 85,09%, com R$ 0,9 bilhão (23%).
No internacional, a Europa saiu na frente com 28% dos embarques, seguida da América do Norte (23,6%), América Central e Caribe (21%), América do Sul (20%) e Ásia, África e Oceania (7,4%). Os destaques foram Cancún, no México, que permaneceu com as fronteiras abertas e com poucas restrições à entrada de turistas, e as ilhas Maldivas, por conta das promoções e da flexibilidade na remarcação. Mesmo fechado aos turistas, o Estados Unidos – leia-se Orlando – esteve no foco de viajantes brasileiros no período da pandemia.
Comportamento
O comportamento dos viajantes não mudou muito em 2020. "Mesmo com tanta insegurança, o brasileiro continuou a comprar suas viagens domésticas com até 30 dias de antecedência (52%) e internacionais com mais de 60 dias (67%)", afirma Rayane Ruas. O tempo médio de duração das viagens domésticas ficou entre cinco e nove dias (48%) e das internacionais, superior a dez dias (41%). O tíquete médio doméstico caiu para R$ 978, 87, o menor valor em dez anos. Por outro lado, o tíquete médio internacional cresceu 79%, ficando em R$ 6.330,36, muito em função da variação cambial no período (30,69%).
Sobre o tipo de pacote vendido, os completos – aqueles que envolvem a parte terrestre e aérea - representam 31% do faturamento, contra 38% das viagens que englobam apenas a parte terrestre, sem aéreo. Os viajantes também preferiram também pagar suas viagens no boleto (49%) do que no cartão de crédito (48%) e acima de cinco parcelas (47%). Destaca-se que o aumento que o boleto obteve no último ano (13% para 49%) pode ser explicado pela aquisição das viagens a partir de financeiras ou crédito direto com as operadoras.
"No momento em que as fronteiras forem reabertas e a a vacinação avance, teremos um pico de viagens como nunca se viu", afirma Rayane Ruas
Roberto Nedelciu, no entanto, não arrisca nenhuma previsão para 2021. Ele acredita que demorará dois anos para os números do turismo voltarem aos níveis de 2019. "A crise foi maior do que uma guerra mundial, mas os associados souberam reagir com rapidez", salienta. O presidente da Braztoa destaca o crescimento da maturidade digital, afirmando que a digitalização veio para ficar. "Na pandemia, estamos dando um salto tecnológico", conclui.