A tornozeleira que o ministro Alexandre de Moraes – o poderoso ministro, registre-se – mandou colocar no ex-presidente Bolsonaro pode ser entendida como um aviso de que dificilmente ele escapará de uma pena pesada no julgamento que deve acontecer em poucos dias no Supremo.

Significa também que, se nos outros Poderes e na elite do país existe a disposição de negociar com Trump – que a cada dia assume com mais força a postura de dono do mundo –, no Judiciário ela não existe. Até porque não se negocia lei. Aliás, a cada dia a negociação se mostra mais difícil simplesmente porque não existe um impasse entre dois países, mas sim entre um país, um povo, e alguém que se coloca como dono do mundo. Negociar assim é praticamente impossível, pois qualquer concessão que se faça em busca de um acordo estará sendo feita a uma pessoa física, não a um parceiro comercial.

O governo brasileiro e, por extensão, o povo brasileiro estão acuados. Qualquer concessão é, certamente, uma agressão à soberania nacional imposta por uma pessoa, em benefício – pelo menos é o que dizem – de outra pessoa. Lançando um olhar sobre o futuro, que preço o Brasil e os brasileiros teriam que pagar se, aceita a anistia, voltassem ao poder os que hoje são defendidos por Trump? Claro que haveria um preço neste enfrentamento. Não se cria um ambiente de confronto como o atual apenas “pelos belos olhos” dos amigos. Há, óbvio, interesses por trás dessas medidas, e até os Bolsonaros – não se iludam – podem estar sendo usados.

O fato é que vivemos uma crise sem pretendentes e que – mais uma vez, não se iludam – será de difícil solução. O governo brasileiro, até aqui, tem se mostrado firme, agindo para assegurar nossa autonomia e nossa independência. O presidente Lula está firme e pode ser que vá até Trump para uma conversa pessoal. O vice Geraldo Alckmin é um dos principais negociadores. Por outro lado, não se pode negar a preocupação dos setores empresariais atingidos pelas medidas adotadas por Trump. É natural que cobrem negociações, mas precisam compreender que há um limite para negociar. O limite é nossa independência, nossa dignidade, nosso existir como nação, como povo.

A hora é de nos unir. De dar sustentação ao governo neste embate, sem nos dividir em direita e esquerda. É preciso resistir. A hora não é de dividir. É de somar, multiplicar. Vencida a batalha contra o inimigo externo, decidiremos nossos rumos internos.