Paulo César de Oliveira é jornalista e empresário

Em alguns artigos recentes, escrevi que Donald Trump se sentia e se comportava como o dono do mundo. As medidas recentes que vem adotando, em especial o tarifaço contra o Brasil, reforçam esta certeza de que o presidente americano assumiu essa postura de dono e patrão do mundo. Um comportamento megalomaníaco que coloca o mundo em perigo. O seu comportamento em relação ao Brasil é especialmente grave.

O tarifaço não foi uma medida econômica. Foi, sim, a tentativa de uma intervenção política descarada, em defesa de uma pessoa, não de uma causa. Ao exigir o fim dos processos contra o ex-presidente Bolsonaro impondo a sanção do tarifaço, Trump agrediu a todo o povo brasileiro e extrapolou suas funções, usando o poder político que lhe foi concedido nas urnas para cuidar dos interesses nacionais e para interferir politicamente em um velho aliado em defesa não do povo americano, mas de um amigo pessoal (?).

A resposta do presidente Lula foi rápida, colocando o presidente americano em seu devido lugar e lembrando que quem manda no país é o povo. Bela retórica, mas que não resolve o problema. O país – quando digo “o país”, falo no povo – precisa se manifestar, posicionando-se contra o americano intruso e contra seus aliados brasileiros. A que preço entregaram o país, aceitando ingerência externa num problema que diz respeito apenas a nós brasileiros? Onde estão nossos nacionalistas patriotas, que se colocaram num “silêncio ensurdecedor”? Que preço teremos que pagar para cessar uma ingerência interna descabida?

“Vamos negociar”, propõem os mais comedidos, entre eles o vice-presidente, Geraldo Alckmin. Pode ser um caminho, mas desde que não signifique ultrajar nossa Constituição e desde que não signifique escancarar o país a novas intervenções. Lula, apesar de ter sido firme e agido dentro da legalidade em sua resposta ao agressor, não tem força para falar sozinho.

Que a classe política, a classe empresarial e o povo – dentro do possível – se manifestem em defesa do país. Fraquejar agora é deixar a porta arrombada para novas intervenções externas. Quem provocou essa reação descabida do presidente americano não pode ser ouvido agora. Precisa ser isolado, mesmo que, de alguma forma, acabe se beneficiando dos acordos futuros para pôr fim às agressões. Negociações, se ocorrerem, devem se sustentar na soberania. O Brasil, já avisou Lula, é dos brasileiros. A advertência vale para o agressor externo e para os agressores internos.