Não custa repetir as velhas lições populares: “Quem quer galinha não faz ‘xô’” diziam os sábios do interior mineiro. Para os não iniciados no “mineirês”, não “fazer ‘xô’” significa não fazer ou falar nada que possa atrapalhar no objetivo de alcançar algo. No caso específico, não dizer ou fazer nada que possa assustar os atores econômicos, causando insegurança jurídica ou desconfiança quanto à seriedade ou à competência dos gestores políticos. Tudo o que temos feito nos dias atuais.
O Brasil montou um circo na administração das crises sanitária e econômica provocadas pelo coronavírus, nas quais autoridades e dito líderes da sociedade se alternam no picadeiro. Cada um à sua vez, ou às vezes juntos, impõem o total despreparo para a condução do país a um porto seguro de onde se possa iniciar uma longa viagem rumo à retomada do crescimento econômico. É, sim, uma longa viagem.
Iludem-se os que pensam que simplesmente retomar as atividades econômicas imediatamente, de forma atabalhoada, fará com que o país, e o mundo, retome patamares pré-pandemia. Não será assim. A recuperação será lenta, sobre escombros de um mundo velho tentando se reerguer em outra realidade.
Ainda não é possível imaginar, quanto mais saber, por quais mudanças passaremos. Não defendo o imobilismo. Defendo a sensatez. Precisamos, sim, o mais rápido quanto possível, colocar a economia para funcionar, mas com algum planejamento. Sem ele, corremos o risco de aumentar nossos problemas. De forma imediata e para o futuro.
Não somos os únicos no mundo a necessitar de investimentos pesados para recuperar a economia. A maioria dos países terá que trabalhar para atrair investimentos. Capital, civilizado ou selvagem, não tem pátria. Ele se fixa onde se sentir mais seguro, não necessariamente onde possa auferir lucros maiores. Uma parte dele, sim, busca o lucro rápido e a qualquer preço. E certamente não é desse tipo de capital e investidor que estaremos à procura, pois este não tem compromissos sociais e, normalmente, por onde passa, deixa terra arrasada.
O Brasil precisa tratar o problema da retomada de suas atividades com mais prudência, com mais técnica e menos emoção. Esqueçam 2022. Nossos problemas estão em 2020 – por mais que se queira esquecer este ano. Não tentem criar cortinas de fumaça para colocar sombra na própria incompetência. Nossos problemas apenas se agravaram mais rapidamente com a pandemia. Se conseguirmos ser sérios, vamos avançar. Senão, avançaremos também. Para o abismo.
Mas, volto a lembrar, a responsabilidade do enfrentamento da crise não é apenas da esfera federal. De nada adianta ficarmos cobrando ações do governo federal, do Congresso e dos Tribunais Superiores se, nos Estados e nos municípios, há apatia – embora em Minas existam bons exemplos a seguir –, se falta coragem a governadores, prefeitos, deputados e vereadores para assumirem os custos políticos de decisões muitas vezes impopulares, mas indispensáveis.
Da sociedade é preciso cobrar responsabilidade. Responsabilidade maior até do que das autoridades. A irresponsabilidade de cada um traz consequências pessoais para a comunidade. Se não nos juntarmos, se não tivermos consciência, vamos apenas aceitar a derrota. Mais uma vez.