Paulo César de Oliveira

A incerteza da pandemia

Vacina, economia e necessidade de solidariedade


Publicado em 25 de agosto de 2020 | 03:00
 
 
 
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Vamos entrando no sexto mês de convivência com a tragédia da Covid-19, que atingiu o Brasil depois de espalhar o terror na China e na maioria dos países europeus. Não fomos pegos de surpresa. Tivemos, sim, algum tempo, mesmo que curto, para nos planejarmos com algumas ações preventivas.

Quando fomos atingidos já sabíamos, por exemplo, que a melhor prevenção, ou a única forma de se evitar a contaminação, era, e continua sendo, o isolamento. Demoramos a adotá-lo e, quando fizemos, foi com pouca seriedade por parte da sociedade e do governo. Pagamos a inconsequência com, até agora, mais de 100 mil mortes e perto de 4 milhões de infectados.

Até onde vamos, não sabemos. Ainda conhecemos pouco sobre o ciclo do coronavírus, apesar do grande esforço mundial dos cientistas. Este desconhecimento – ou pouco conhecimento, pois já avançamos um pouco – não é apenas da medicina brasileira.

O empresário mineiro José Haddad, dono da Marie Camile, uma das maiores lojas de tapetes importados do Brasil, comenta que a situação é a mesma com todos os países com que mantém negócios: ninguém sabe de nada. E isso é angustiante, pois não sabemos por quanto tempo essas incertezas permanecerão, mesmo com o surgimento de vacinas que alguns anunciam para o fim deste ano.

Enquanto os cientistas avançam na tentativa de uma vacina, alguns países dão sinais de uma nova onda de contaminação motivada, ao que parece, pelo comportamento da sociedade que, descrente na solução simples, embora desgastante, do isolamento, passou a desrespeitá-lo. Há quem apoie esse desrespeito sob a justificativa de que ele agrava a crise econômica que já jogou milhões de pessoas na situação de pobreza extrema. Essa é, sim, uma realidade que não pode ser desprezada.

A economia mundial teve um baque impossível de ser inteiramente avaliado neste momento. Em alguns países, a recuperação, mesmo que muito lentamente, já começou, puxando outras economias, como a brasileira, especialmente os setores do agronegócio e mineral. O presidente Bolsonaro, que trata com certo desdém a crise, tem desenvolvido algumas ações que enfrentam dificuldades de deslanchar por causa da burocracia que trava o Estado, retardando até a chegada da ajuda emergencial aos mais carentes.

Também para pequenos e médios empresários, o dinheiro prometido, que aliviaria as dificuldades e impediria a falência, é demorado. Às vezes, nem chega. Perdemos empregos e empresas. Mesmo diante de tantas dificuldades, empresários e governo precisam entender que agora é hora do “novo normal” e de todos se reinventarem, pois nada será como era antes.

É hora também de solidariedade, e não apenas de cobranças de ações governamentais. Há que se ressaltar que muitas grandes empresas se anteciparam – como mostra diariamente a Rede Globo – e não negligenciaram seu papel social ao destinar milhões de reais para ajudar os mais necessitados atingidos frontalmente pela pandemia e pouco assistidos pelas ações de governo.

Enfim, temos que nos conscientizar de que vivemos uma situação pela qual ninguém esperava passar. Chamo a atenção da classe política para que se lembre dos milhões de eleitores que vivem dramas pessoais e familiares. É hora de pensar neles também. Quando nada, por termos uma eleição agora em novembro e outra, logo ali na frente, em 2022.

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