Paulo César de Oliveira

A lição de Tancredo

Hora de quem faz política por vocação, e não por esperteza

Por Paulo César de Oliveira
Publicado em 17 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
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É sempre importante recordarmos as lições dos mestres. E Tancredo foi, sem dúvida um mestre na arte de fazer política. Quando deixou o governo de Minas para disputar, no Colégio Eleitoral, a Presidência da República, Tancredo respondeu os ataques de Paulo Maluf, o então candidato da situação ou da antipolítica, que a hora era “dos profissionais”. De quem fazia a política por vocação, não por esperteza e interesses pessoais.

Tancredo venceu, mas, de lá para cá, a política perdeu. Perdeu muito em qualidade. Transformaram a política num jogo de espertalhões, de uma maioria de aproveitadores que, cada vez mais, se beneficia do afastamento, do repúdio mesmo dos bons, para moldar a prática política os seus interesses.

O que estamos assistindo nesta campanha eleitoral para presidente – vou ficar só nesse nível como simbolismo de uma realidade geral – é de arrepiar e assustar quanto ao futuro. Na teoria, dois extremos opostos – na prática dois iguais na esperteza – se uniram para polarizar a disputa, impedindo o surgimento de alguém, fora desse jogo rasteiro, que, por suas propostas e visão de futuro, possa conquistar o eleitorado. Agem diretamente ou por meio de seus capachos ou até inocentes úteis.

Muitos deles se lançaram candidatos para dar ares de democrata ao jogo eleitoral. Outros buscam atrapalhar a marcha de quem tem condições, por seu preparo pessoal e conduta política, de conquistar o eleitorado e acabar com a polarização da disputa.

É o que estão fazendo agora com João Doria. Tentam impedir a sua candidatura, legitimada em prévia eleitoral realizada no partido, como previsto no regimento da legenda, em nome de coalização envolvendo outros nomes de menor expressão. Quebram as regras da democracia a cada dia, apesar de ser uma legenda que nasceu com um discurso de uma nova política, livre dos espertalhões do velho MDB e Arena.

O PSDB deu certo, mas acabou se prostituindo, aceitando em seus quadros exatamente os que nasceu para combater. Doria, queiram ou não, será candidato. Ele está respaldado pelas regras internas que precisam ser respeitadas pelos que se arvoram donos do partido. Mas um Bruno Araújo não está à altura de presidir um partido.

Se assim não for, será por decisão judicial, em que ele, se necessário, vai buscar seus direitos de vencedor das prévias. Será lamentável vermos uma legenda que nasceu com discurso de defesa da democracia se rebaixar ao nível dos que nasceu para combater. Esse episódio que se desenrola no ninho “tucano”, e que poderá ter um fim nesta semana, retrata bem o momento político brasileiro.

O país, lamentavelmente, está destroçado politicamente, sem rumo e sem unidade para enfrentar os desafios que já não são do futuro, mas cada dia mais do presente. Um mar revolto que interessa apenas, e como interessa, aos inimigos da democracia.

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