Que Bolsonaro é candidato à reeleição poucos duvidam. A reiteração de uma possível recandidatura poderia até ser uma estratégia para segurar sua base parlamentar – se é que ela existe – por meio da expectativa de poder. Mas isso seria um refinamento político que até agora o presidente não mostrou ter, muito embora tenha sido esperto o suficiente para perceber o desgaste do PT e fazer toda a sua campanha eleitoral em cima disso. Deu resultado, mas, ao que parece, Bolsonaro ainda não acredita que o PT – ou, no mínimo, Lula – já esteja aniquilado, sem chances de retomar o poder. Tanto que o elegeu adversário preferencial e, a todo momento, encontra uma chance de criticar o oponente escolhido.
Não se importa nem mesmo em criticar bons quadros técnicos, execrando-os apenas por terem trabalhado em governos petistas. O caminho de caça ao adversário, no entanto, ficou mais espinhoso. A divulgação das conversas do então juiz Sergio Moro com procuradores da Lava Jato, apontando o que, para muitos, sinaliza parcialidade do hoje ministro da Justiça e dos procuradores no julgamento de Lula e de outros petistas, deu novo ânimo aos que são contra Bolsonaro.
Injetaram combustível novo na campanha dos que juram que Lula é inocente e que é apenas um preso político, não um corrupto preso por suas bandalheiras. E isso parece assustar o presidente, que, na defesa de Moro, chegou a alçar seu ministro à condição de herói nacional por ter tido a coragem de condenar um ex-presidente e muitos outras figuras proeminentes da política e da economia.
Para ser ou parecer imparcial e nem tanto advogado de seu ministro, o presidente poderia ter se lembrado de Joaquim Barbosa, o ex-ministro do STF, que também fez um “strike”, derrubando uma estrutura armada para corromper, como relator do processo do mensalão do PT. Mas no panteão criado por Bolsonaro, dedicado aos combatentes da corrupção, neste momento só cabe o ministro Moro, que não pode ter sua reputação arranhada, sob pena de colocar em risco os planos da reeleição. É que, se conseguirem desmoralizar o ministro e os procuradores, ressuscitam Lula, o PT e o petismo. E aí pode não ser o adversário ideal que Bolsonaro escolheu para 2022.
A insistência do presidente em falar numa possível candidatura à reeleição – se não der certo, nos bastidores a aposta é que seu candidato será João Doria, governador de São Paulo – pode acabar acirrando os ânimos e prejudicando o debate político em torno de propostas importantes, como a reforma da Previdência. Se uma nova candidatura entusiasma a base, coloca a oposição de orelha em pé desde já. É que, pré-candidato, Bolsonaro teria, sim, influência nas eleições municipais do ano que vem, pois precisa iniciar logo a pavimentação de seu caminho. Essa influência poderá ser muito forte caso ele decida usar a caneta, beneficiando a turma mais próxima. É de se ver, já a partir desta semana, quais serão as consequências do palanque aberto prematuramente. Não se assustem se a oposição recrudescer seu discurso e partir para ações mais ousadas.