Não convém subestimar a capacidade do presidente Bolsonaro de tocar bumbo. Líder de uma banda em que a maioria dos músicos ainda não aprendeu a ler a pauta ou está começando a solfejar, ele segue livre e solto, tocando no tom que julga correto.

Às vezes tem atravessado no ritmo ou aumentado em excesso o tom, mas o fato é que vai agradando à maioria, embora não aos turistas que tentam entender a evolução da banda. O fato é que, internamente, o “bum-bum” tem entusiasmado desde camadas de ouvidos mais afinados até o povão, que, historicamente, prefere o tom mais forte aos mais suaves. Bolsonaro, além de dominar a técnica do “batidão”, conta com o desarranjo da banda do outro lado.

A oposição viu sumir instrumentos e banda, que antes funcionava como uma orquestra afinada, impulsionada por verbas públicas capazes de comprar vozes e instrumentos. Ela se dispersou, e nada indica que encontrará rapidamente um novo maestro para regê-la. Melhor para o tocador de bumbo, que se exibe praticamente sozinho num desfile que tem muito mais de estratégico do que de narcisista. Nas ruas, nos palanques, em qualquer lugar onde tenha oportunidade, Bolsonaro faz seu barulho, provoca e tira o foco das discussões que realmente interessam.

Com isso abre caminho para que a parte de sua equipe que é da sinfônica, não da banda, vá levando adiante os projetos do governo, como as reformas e os cortes, sem chamar muita atenção. Apenas o mínimo inevitável. Mais do que isso, dá espaço ao governo para trabalhar no toma lá dá cá, que tanto diz combater, sem que isso leve a um debate mais sério sobre a política brasileira. Quem tem que ser agraciado, contentado, tem tido seu quinhão. Como sempre foi. Até então, no campo interno, tem dado certo. Tão certo que Rodrigo Maia até parece independente, mas vai à frente carregando a pauta da banda que toca, embora desafinada, como manda o chefe. A questão é que em algumas situações o tocador de bumbo bate a baqueta com muita força, atravessando a marcha, ou o samba, dependendo do público ouvinte, com um som desagradável. Como essas escorregadas estão sendo recebidas por ouvidos mais requintados, especialmente no exterior, é a dúvida.

Bem, Bolsonaro vai levando adiante um projeto que está construindo enquanto governa. Na expressão popular, vai trocando o pneu com o carro em movimento. É bem verdade que, até então, o velocidade tem sido baixa, até porque, na maioria dos indicadores, estamos na marcha a ré. Mas pelo menos está em movimento, ao contrário da maioria dos governadores – as exceções são raras e honrosas – que não se apresentam para governar. Lamentam e esperam que o governo federal resolva seus problemas. Claro que a realidade deles é dura. Ainda mais claro é que a União não terá como ajudar. É melhor que ajam logo. Se não têm o bumbo, que pelo menos toquem a flautinha doce.