PAULO CESAR DE OLIVEIRA

Delator e delatado: quem está com a razão?

Redação O Tempo


Publicado em 04 de abril de 2017 | 03:00
 
 
 
normal

Essa história de delação está virando brincadeira, e os atingidos têm sempre as mesmas desculpas: dizem que não é com eles e que nunca viram ou conversaram com os delatores. Dizer que a “Veja” é mentirosa, como fez o senador Aécio Neves, ao lado de seus advogados Carlos Mário Velloso e Aristides Junqueira, em entrevista coletiva no sábado, é uma reação irada que em nada ajuda a esclarecer os fatos. Agora vai ter que provar o que disse. Quanto mais rápido, melhor.

Ao acusar a revista, entra em conflito com um ex-vice-presidente da Odebrecht. Que razão teria o executivo para inventar, em depoimento, que a irmã Andrea Neves operava uma conta dos dois em Nova York? É um assunto muito sério que, se for mentira, joga por terra sua delação, o que pode deixá-lo na cadeia.

Quem delata busca o benefício da redução da pena. Mentir implicaria não concessão do benefício. Mesmo assim, os denunciados saem pelo caminho fácil da desqualificação do depoimento e do depoente. Que a Justiça faça sua parte e puna quem for culpado. Mas que puna a todos na justa medida de suas culpas. Não tenho, por exemplo, nenhuma simpatia por Marcos Valério, mas como conseguiram puni-lo com 40 anos na prisão enquanto outros, com igual ou maior grau de culpa, ficaram livres ou receberam punição menor? Parece-me um verdadeiro absurdo.

Como também é o caso de Marcelo Odebrecht, cujo grupo emprega mais de 200 mil pessoas e está preso pelo que, garante seu pai, Emílio Odebretch, é uma prática antiga. Se não pagar propina, não tem obras. Na semana passada, um amigo europeu disse-me: o que está impressionando o mundo não é a corrupção, pois ela existe por todo lado, mas os números que ela atinge no Brasil, simplesmente estratosféricos.

Uma palavra a mais sobre o caso Aécio: não se acredita que a “Veja” nem o vice-presidente da Odebrecht estejam mentindo. É o caso, então, de uma acareação nesse e em outros casos. Aécio pode levar a questão para a briga judicial longa, pois contratou dois excelentes advogados, Carlos Mário Velloso e Aristides Junqueira. Talvez por saber o que viria. O desmentido do senador e de sua irmã Andrea, que em nada se diferencia dos outros, reacende uma discussão sobre as consequências das delações. É verdade que, se não forem verdadeiras, provocam grande estrago, de difícil reversão, na vida do acusado.

O bom senso indica, porém, que alguém que se dispõe a assinar um acordo de delação o faz no propósito de dizer a verdade, pois apenas nesse caso terá algum benefício. Se mentir, agrava sua situação. Pressupõe-se, então, que elas sejam verdadeiras, tanto que orientarão as investigações e até mesmo as denúncias formais do Ministério Público. Se é assim, por qual razão mantê-las em sigilo? Só criam dúvidas quanto às verdadeiras intenções do Judiciário em evitar a transparência. De nada adianta o sigilo, ainda mais num país com tantos furos para vazamentos.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!