Paulo César de Oliveira

É hora de acompanhar e cobrar

Política brasileira e necessidades da população


Publicado em 09 de fevereiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Passados os salamaleques para os vencedores e o lamber das feridas pelos derrotados, é hora de o Congresso retomar efetivamente suas atividades. Até aqui, foram dois anos perdidos por erros do governo e pela pandemia, que precisam ser recuperados. Não com votações de afogadilho, sem debates sérios, mas por meio de escolhas criteriosas das pautas. Enfim, senadores e deputados não podem ficar reféns dos devaneios do Executivo. As pautas precisam ser de interesse do país, não as de interesse do presidente. É preciso ter coragem para votar o que o país precisa de fato. 

De nada adianta aprovar projetos “meia-boca”, que não resolvem os problemas e criam pendências judiciais. Enfim, é preciso aprovar agora o que deveria ter sido votado na primeira metade do mandato, que é quando, ensinam as velhas raposas, votam-se as propostas de menor aceitação popular. Objetivamente, o que é de difícil aceitação pelo eleitor deve ser votado rapidamente, ficando a segunda metade dos mandatos para a aprovação do que tem apelo eleitoral. Até porque, todos estão sobre os palanques pela atitude de Bolsonaro de antecipar a disputa eleitoral. 

Em artigo recentemente publicado em um site político, o procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima, que atuou como investigador da Lava Jato, fez uma avaliação da política brasileira que a muitos pode parecer cruel, mas que, infelizmente, não foge muito de nossa realidade. Disse ele: “A política no Brasil, e estou falando quando ela é considerada limpa e honesta, tem sido apenas um sistema que procura o dinheiro dos ricos para conseguir os votos dos pobres com a finalidade de proteger os primeiros dos últimos. Já na sua versão corrupta, trata-se do sistema em que uma classe de políticos profissionais se apropria das atividades do Estado para revendê-las a interessados pelo melhor preço. Em nenhuma de suas duas versões brasileiras o sistema político se preocupa realmente com a população e suas necessidades”. 

As eleições para a escolha das mesas do Senado e da Câmara escancaram essa realidade, que é uma praxe na política brasileira. Nossos políticos são eleitos não pelo que pensam nem por projetos. São eleitos por eleitores ávidos por favores, que os escolhem pelos benefícios prometidos ou, pior, pelo time pelo qual torcem, pela fama profissional, geralmente ligada às artes ou à área de comunicação. E porque são eleitos assim, precisam da prática do toma lá dá cá, pois só demonstrando força política, nomeando aliados ou liberando verbas para obras conseguem a reeleição. São corruptos ou apenas pragmáticos? Impõem as regras do jogo ou jogam conforme a regra? 

Pragmatismo ou corrupção, o fato é que o país não consegue sair de suas crises constantes, não se livra dos vícios políticos alimentados pelas classes dominantes e aceitos pela população. E que não defendam o totalitarismo como solução. Os 20 anos do regime militar nada mudaram e, em alguns aspectos, até pioraram. nossa realidade política. A repressão fez afastar os bons, abrindo espaço para os maus na vida política. É pelas urnas que precisamos mudar essa realidade.

Enquanto não conseguimos isso, é preciso ficar atento, acompanhar de perto as ações não apenas do Legislativo, mas também, e talvez principalmente, do Executivo e do Judiciário. Sem fiscalização, fazem o que querem. E normalmente o que querem não é o que o povo precisa.

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